domingo, 14 de julho de 2024

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 049 - DESAFIO DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAS APLICADAS

Por que e para que as ciências humanas e sociais aplicadas

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

A discussão que aconteceu na tramitação das diretrizes para a política nacional de ensino médio que desde o dia 11 do corrente foi para a sanção da Presidência da República, surgiu em torno do papel que as ciências humanas e sociais aplicadas, integrada por filosofia, geografia, história e sociologia devem desempenhar na educação revela um grande paradoxo sobre como devemos enfrentar os desafios que o século XXI coloca nestas questões. É claro que enfrentamos um declínio na percepção da importância das ciências humanas e sociais aplicadas para o mundo moderno. Isto, como foi apontado, devido ao declínio experimentado por estes estudos na maioria das universidades do mundo devido à sua ideologização (um objeto de estudo dessas ciências), o que tem resultado no equivoco de posturas dogmáticas, no cancelamento de alguns acadêmicos e escolas de pensamento, e o abandono dos clássicos curriculares.

Por outro lado, a ausência de vocação universitária tem significado a incorporação de estudantes egressos do ensino médio não necessariamente interessados ​​em atividades acadêmicas e/ou intelectuais. Por fim, o aumento do custo do ensino para os responsáveis implica que tanto o corpo discente como os seus pais privilegiem tudo o que tende a retorno econômico imediato, desprezando os chamados “conhecimentos inúteis”.

No entanto, as competências que o mundo pós-quarta revolução industrial e tecnológica exigirá, mobiliza percepções muito além do conhecimento específico de uma profissão, que em breve pode até se tornar obsoleta. Numa era de mudanças constantes, em que as pessoas terão de desempenhar funções muito diferentes ao longo da vida, muitas das quais nem sequer podemos imaginar, serão necessários trabalhadores que tenham “aprendido a aprender”, que tenham pensamento crítico, que saibam pensar a partir de diferentes perspectivas, colaborar, criar, resolver problemas, comunicar e demonstrar capacidade de adaptação aos múltiplos imprevistos que terão de enfrentar.

Assim, o principal objetivo do ensino deve ser a oferta de uma formação intelectual rigorosa, que permita a compreensão das disciplinas das profissões, mas também da complexa realidade do mundo em que temos de operar.

Da mesma forma, as fronteiras entre as ciências humanas e sociais aplicadas estão cada vez mais complexas e muitas vezes não é possível compreender os problemas específicos de uma dada disciplina isoladamente, sem referência à lógica e aos métodos de conhecimento da realidade de outras disciplinas muito diferentes. O estudo das ciências humanas e sociais aplicadas torna-se cada vez mais difícil sem o conhecimento científico e, pelo contrário, o mundo da ciência muitas vezes fornece respostas que exigem uma reflexão ética mais típica da discussão filosófica e abre questões que exigem abordagens de outras disciplinas. Um economista, para tomar decisões, deve estar em condições de analisar a relação que a sua ciência tem com a política, a cultura, a história e a ética. Por sua vez, a própria economia, que estuda as motivações e o comportamento dos seres humanos e dos grupos agregados, beneficia-se das descobertas da biologia no que diz respeito à natureza do comportamento humano.

Um historiador deve compreender a economia, o genoma humano e as suas teorias; um filósofo que não compreende conceitos básicos de física estará ausente da discussão contemporânea de sua própria origem.

Por último, e não menos importante, todas as ciências humanas e sociais aplicadas devem saber que existem formas sutis e mais sensíveis de compreensão da realidade, como a literatura e a arte (também passiveis de estudo por essas ciências), que permitem observar uma parte da realidade que certas racionalidades não conseguem acessar. A arte em todas as suas manifestações envolve formas de representação, expressão e comunicação de ideias e emoções, e permite a expansão da consciência e imaginar a situação dos outros, ter empatia com as mais diversas manifestações da natureza humana e olhar o mundo a partir da perspectiva de outros.

 

13 de julho de 2024



[1] Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor da Faculdade Unyleya, da UniverCEDAE e do Instituto Devecchi.

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