Ricardo José de Azevedo Marinho[1]
Sempre mergulho na
leitura, principalmente nos romances que são quase sempre adiados durante o ano
pelos livros de história e política por obrigação e conduta profissional. Tive
uma infância sempre na presença dos livros do meu irmão mais velho que era
também um grande leitor. Na biblioteca dele e que me apresentou e dividiu
comigo, foram as obras-primas das nossas vidas: toda a coleção dos romances da Agatha Christie (1890-1976), a Dama do Crime com
informações históricas e geográficas diversas, e depois, o universo infinito da
literatura.
Hoje o livro está em
desvantagem. A compulsão quase obsessiva por telas está privando as novas
gerações do instrumento insubstituível que é a leitura. Como a argumentação bem
fundamentada é uma premissa, precisamos racionalizar porque a leitura é
importante.
Pois bem, a invenção da
escrita é possivelmente um dos marcos primordial no processo civilizatório,
porque permite a preservação e transmissão do conhecimento de geração em
geração e, pessoalmente, a aquisição, análise, avaliação e processamento de
informação. Evocar novas perspectivas, mergulhar em outras realidades e outras
culturas. Sem ele não é possível acessar todas as disciplinas como história,
ciência, arte, ética e filosofia.
É através da leitura que é
possível desenvolver um vocabulário mais rico e extenso, que por sua vez é um
requisito essencial para adquirir e articular ideias complexas e compreender a
realidade com todas as suas nuances e sutilezas.
Há estudos que mostram que
uma das maiores fontes de desigualdade é o fato de que, enquanto os mais
vulneráveis como as crianças usam muito poucas palavras, entre os mais lidos
e lidas esta percentagem é várias vezes superior.
A literatura aproxima-nos
de países desconhecidos, leva-nos a universos imaginários, dimensões alternativas
e permite-nos descobrir novas ideias, novos personagens, diferentes vidas e
experiências e novos horizontes. Mais do que isso, o romance é a pedra angular
da empatia e da inteligência emocional, porque permite uma melhor compreensão
da natureza humana e faz crescer a compaixão e a tolerância e valorizar e
conectar-se com outro diferente.
Não resta dúvida de que a
nossa caminhada moral não foi construída apenas a partir de normas, mas
principalmente a partir de livros clássicos e outras fontes das humanidades.
Nossas convicções
antirracistas se consolidaram, por exemplo, com Madame Butterfly. Poderá
haver melhor introdução ao horror da pobreza e à desolação que ela traz do que Os
Miseráveis de Victor Hugo? Ou uma melhor compreensão da diversidade
infinita da natureza humana do que A Comédia Humana de Balzac, ou dos
conflitos entre política e poder do que as peças de Shakespeare? Ou compreender
a força do amor sem Neruda?
Existe uma ligação muito
forte entre a literatura, a democracia e a valorização dos direitos humanos. O
romance, ao promover a empatia e a compaixão, permite-nos identificar-nos com o
sofrimento dos outros e isso é parte constitutiva da cultura democrática. Uma
população esclarecida torna possível a participação ativa e informada nos
assuntos públicos e uma vida cívica mais fecunda.
Agora, relendo esse breve
texto, percebo o quanto é difícil para a racionalidade competir com a
gratificação fácil e imediata do Tik Tok!
29 de fevereiro de 2024
[1] Presidente do Conselho
Deliberativo da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya
Educacional e da UniverCEDAE.
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