O tempo de união
Ricardo
José de Azevedo Marinho[1]
A vingança do poder: como os autocratas estão reinventando a política
do século XXI com estratégias para enfraquecer os alicerces da democracia, do venezuelano de Moisés Naím. São Paulo: Editora Cultrix, 2023.
2023
encontrou sua passagem e fez passar 2024. Um conjunto de livros nos legou.
Vários passaram despercebidos. Um que foi saudado pela Madeleine Albright, a
64.ª Secretária de Estado dos Estados Unidos da América (EUA) e que nos deixou Fascismo: Um alerta. Trata-se de A vingança do poder: como os autocratas
estão reinventando a política do século XXI com estratégias para enfraquecer os
alicerces da democracia, do venezuelano de Moisés Naím, colunista e membro
ilustre do Carnegie Endowment for International Peace em Washington.
Nos quatro cantos
do mundo, as sociedades livres enfrentam um novo e implacável inimigo. É um
adversário que não tem exército nem marinha; ele não vem de qualquer país que
possamos - apontar em um mapa. Está em toda parte e em parte alguma, porque não
está lá fora, mas aqui dentro. O parágrafo que acabo de transcrever é o primeiro que o leitor
encontrará, assim que abrir o livro.
Para
Naím, existem três “Ps” que estão a reinventar a política do século XXI: o
populismo, a polarização e a pós-verdade. O populismo não é desconhecido, ainda
que nem sempre bem compreendido em suas variantes e contextos. A polarização é
a sociedade que luta. E tudo isso atua em meio a propagandas ao arrepio da
veracidade, que hoje chamamos de pós-verdade. Esses três 'Ps' combinados
adquiriram um poder e formas de interagir que não tínhamos visto anteriormente.
O
populismo se confunde com uma ideologia e até pode se passar por uma, mas não
é. É uma caixa cheia de artimanhas, truques e ardis para ganhar poder e não
largar dele, baseada na clássica ideia de dividir para conquistar. A grande
divisão é entre as pessoas maltratadas e uma classe diretiva abusiva que as
maltrata ainda mais. No meio deles sempre aparece uma figura supostamente
mítica providencial que oferece ao povo a possibilidade de não ser mais
maltratado e assim chegar ao poder. Essa divisão é agora o produto de
polarizações de todos os tipos. As sociedades estão polarizadas de forma
paralisante, devido a polarizações improdutivas e quase sempre tóxicas que não
aceitam que os rivais tenham direito à possibilidade de governar. Essas são as
polarizações que vemos nas democracias de hoje. Essas polarizações são
influenciadas pelas pós-verdades. Antes falamos sobre propagandas. As
pós-verdades as inclui, mas transcende-as ao tentar criar um mundo de
narrativas fantasiosas, diferentes, ao serviço do poder, fazendo da mentira um
instrumento da política, a mentira como ferramenta fundamental. A grande
mentira faz parte do arsenal utilizado pelos populistas. Essa batalha se vencerá
erradicando a impunidade dos mentirosos.
Historicamente,
os ditadores foram militares que se juntavam a outros militares, davam um golpe
contra o estado de direito e diziam que era o poder. Agora já pode não
acontecer através de um golpe nesses moldes, mas sim com um processo em que,
pouco a pouco, os elementos que definem uma democracia são minados. Isso é
feito de forma invisível para as pessoas normais, colocando o seu povo no Poder
Judiciário, comprando parlamentares do Poder Legislativo, aprovando leis na
noite de sexta-feira. Isso tem acontecido na última década. Segundo Moisés
Naím, em 2011, 40% da humanidade vivia num regime autocrático, em 2021 era 70%.
O número de países que são democracias diminuiu. O surgimento das redes
sociais, com a sua imensa influência na sociedade, o surgimento de todo o tipo
de narrativas, tudo isto envolvido em truques que estavam sendo feitos para enfraquecer
a democracia.
Somos
consumidores de um mercado político como os ingênuos empreendedores de
Schumpeter. Hoje é infinitamente mais fácil enganar as pessoas, manipulá-las.
Tudo isso agora é potencializado pelas redes sociais e pelas novas tecnologias.
Além disso, existe uma necrofilia política, que é o amor por ideias passadas e
mortas, que foram cantadas repetidas vezes e seguem fantasiosas. A necrofilia
política está em pleno andamento. Basta ler e/ou ouvir sobre as campanhas
eleitorais de 2024 no México e nos EUA. As eleições municipais brasileiras esperamos
que estejam já imunes desses males.
A
política é uma colcha de retalhos em que a polarização e a pós-verdade dividem as sociedades entre o povo, a sociedade
política e todos os tipos de individualidades. Essa afiliação das pessoas e às
suas individualidades precisam estar unidas pela democracia e o seu país. Essa
é a batalha que precisamos vencer.
Quinta-feira,
4 de janeiro de 2024
[1] Presidente
do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da
Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.
Show ❤️❤️
ResponderExcluirCompartilhando!
ResponderExcluirÓtimo texto!
ResponderExcluirBravo
ResponderExcluirExcelente a iniciativa. Sucesso!
ResponderExcluirOtima leitura feita dos tempos atuais! Que venham as eleições municipais.
ResponderExcluirUma forma mais difícil de combater agora as chamadas fake news. O correto não existe. A moral é vista de vários angulos, Muitas verdades, poucas credibilidades. Pessoas querendo ser e não ser pessoas simplesmente. Tempos difíceis.
ResponderExcluirGostei do conceito de "Necrofilia Política".
ResponderExcluirIsso é um fato.
Creio que para entender o Brasil do Tempo Presente é urgente ler o livro A Biografia do Abismo de Felipe Nunes e Thomas Traumann.