As
Aventuras de Del Toro
Por Vagner Gomes
de Souza
As
Aventuras de Pinóquio foi escrito em capítulos na Itália a
partir de 1881. Seu autor, Carlo Collodi, lançou o livro com ilustrações em
1883. Coincidentemente, esse é o ano de nascimento de Benito Mussolini numa
localidade há quase 65 quilômetros de Florença (cidade de Collodi e também de
Nicolau Maquiavel). Portanto, trata-se de uma obra de literatura infantil
tardia do renascimento uma vez que o boneco é a melhor expressão do conceito de
antropocentrismo. Além disso, há passagens do texto que sugerem um diálogo
entre O Príncipe e Leviatã até chegar ao clímax do “peixe
monstro” que engoliu Gepetto. No livro há muito a valorização da educação vide
o esforço do marceneiro em vender seu casaco para comprar os livros escolares
do boneco.
A unificação italiana
(1848 – 1871) teve um possível balanço pelas linhas que se assemelham a uma
história de terror. O clássico de animação da Walt Disney (1940) buscou introduzir
o reformismo liberal do New Deal associado a cobrança de uma “ética na
política” que seria o incomodo em relação as forças políticas do populismo
norte-americano – a força simbólica do nariz a crescer a cada mentira do
boneco. Os Estados Unidos ainda não estava na Segunda Guerra Mundial que
mostrava o terror do fascismo na Europa. Então, o “Grilo Falante” e a “Fada
Azul” dialogavam com a ética protestante de Max Weber para que o boneco se
transformasse num ser humano correto e moldado para esse novo mundo.
Entretanto, As
aventuras de Pinóquio sob a direção de Guilherme del Toro nos vem depois das
idas de Joe Biden para o “picadeiro” do Circo mundial numa aterrorizante
pré-estreia do que pode ser uma “Segunda Guerra Fria”. Há momentos que uma obra
cinematográfica está muita empenhada a falar do momento político contemporâneo.
A contribuição do diretor de O Labirinto do Fauno é muito importante para todas
as gerações. Ele transmite ao público
esses sinais de alerta sobre os perigos que a rotinização da democracia. Não se
podem trilhar os erros americanizados, pois um sardo, provavelmente lido pelo
grilo Sebastian C., escreveu que em política gera o fascismo.
O perigo do fascismo
contemporâneo, com suas novas roupagens na tecnologia das redes sociais, ainda
precisa de estudos aprofundados. Todavia o gênero do “terror”, que muito atraem
adolescentes e jovens, poderia ser mais uma oportunidade para que façamos uma
unidade. Alfred Hitchcock e o “cancelado” Roman Polanski seriam “escolas”
revisitadas pelo diretor/roteirista/produtor mexicano.
Em sua obra há uma universalidade que ganhou o
mundo talvez por ter vivenciado as mazelas do hegemonismo do Partido
Revolucionário Institucional – PRI (1929 – 2000) no México. E, em 2001, lançou
um filme de terror ambientado na Guerra Civil espanhola (A Espinha do Diabo) o
que lhe permitiu ser um cineasta com grande percepção internacional. O Brasil e
a questão amazônica estão presentes no premiadíssimo A Forma da Água (2017). O
público brasileiro assistiu, mas não perceberam os alertas sobre o tema da
ciência que nos atingiria anos depois. Um monstro amazônico que era tratado
como folclore dos povos originários. Um outro ponto para nos permitir alcunhar
Guilherme del Toro como o Mariátegui do cinema na atualidade.
Agora, em As Aventuras
de Pinóquio de Guilherme del Toro é uma lição sobre a biologia do fascismo. O
ressentimento com a I Guerra Mundial na perda de um filho e o fator religioso.
Os espíritos da floresta ganham força contra as forças ocultas da morte. Um
Grilo que deixa de ser falante para ser um intelectual que narra sobre o tempo.
Gepetto demora a ver no boneco o seu filho, mas a fuga do interior do monstro
marinho foi um ato de unidade. Antes, que os spoilers incomodem os leitores encerrará
por aqui nossas conexões possíveis, mas convidando para que assistam ou revejam
ao filme como uma importante oportunidade de uma transição com todas e todos.
Excelente e rico texto. Espero que peguem as referências e busquem no Google. Interessante que a técnica de filmagem é a mesma de O Estranho Mundo de Jack e de A Noiva Cadáver, ambos de.Tim Burton, de Wandinha.
ResponderExcluirAssistirei assim que puder! Obrigado pelo belo texto!
ResponderExcluirExcelente texto sobre uma primorosa animação dirigida por um diretor genial. Parabéns!
ResponderExcluir😍👏👏👏 Irei assistir com a nova visão agora.
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