O
que eu sei sobre André Ceciliano
Luiz Eduardo
Soares
Nós vivemos sob o signo
da guerra. Não por acaso, o poder é patriarcal. A violência é masculina. Mais
de 90% dos assassinatos no mundo são cometidos por homens. Eles, nós, somos
educados para terceirizar para o falo nosso valor. Por isso, ficamos, literalmente,
pendurados na brocha. Inseguros, somos muito perigosos. Não é coincidência que
os fascistas se oponham tão ferozmente ao que denominam “ideologia de gênero”.
Eles não odeiam as
mulheres, individualmente, mas o feminino como signo de um mundo que ignoram e
temem, um mundo que poderia vir a ser hostil ao autoritarismo falocêntrico e à
exploração mercantil. Eles odeiam o potencial de construção política do
feminino. Eles odeiam a população LGBTQIA+ porque temem a subversão dos papéis
tradicionais, promovida por quem ousa privilegiar a liberdade fluente do
próprio desejo e experimentar a indisciplina no jogo das identidades. Às vezes,
na esquerda, nós escorregamos, seja por negligenciar como “identitárias” as
lutas que não compreendemos, seja por compartilhar preconceitos machistas (os
quais não fazem a cabeça apenas dos homens).
Não raro, cobramos postura esteticamente
combativa de nossos representantes, exigimos que nossos candidatos ajam como
guerreiros, gritem, hostilizem adversários, adotem a linguagem verbal e
corporal do embate. O homem de esquerda se estiver na vida política, deve
exibir disposição para o confronto. Com frequência, entre nós, há um veto
estético a quem não se encaixa no modelo de inspiração militar. Um veto à fala
mansa, ao estilo amável, ao articulador arguto que alcança finalidades
estratégicas por meio da negociação, sem ardis e bravatas. Negociar não
significa ceder, transigir, trair princípios e renunciar a compromissos, mas
reconhecer com realismo qual a correlação de forças em cada caso e avançar,
passo a passo, sem necessariamente cantar vitória. Foi assim que André
Ceciliano, como presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio,
conquistou a vitória extraordinária que poucos estão vendo. Sem alarde, sem
autopromoção, pé ante pé, sem dós de peito retóricos, sem brados doutrinários,
com candura e respeito, fazendo valer a palavra empenhada. Foi assim, com essa
incrível coragem de ser simples e gentil, que André impediu que a esmagadora
maioria bolsonarista na ALERJ fizesse avançar suas pautas conservadoras. O
triunfo foi resistir em tempos tão sombrios e, em meio à tempestade fascistóide,
promover avanços progressistas e democráticos. Os exemplos são inúmeros. Não se
enganem com o jeito modesto do André: o Rio de Janeiro pode dar ao Senado um
dos mais competentes, sensíveis e leais políticos brasileiros. A luta também se
faz com a palavra serena e afetuosa, com o sorriso doce e a empatia. Nem sempre
a força e a firmeza estão onde parecem estar. A luta política muitas vezes pode
ser vencida sem armas e gritos de guerra. O Rio está farto de sangue, fome e
iniquidades. Chegou a hora da virada com Lula, Freixo e André Ceciliano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário