O
Mistério de Stranger Things[1]
Por Vagner Gomes
de Souza
Na distante década de
80 do século passado um vírus foi responsável pelo desaparecimento do ator e
dramaturgo Charles Ludlam. Diagnosticado com AIDS em 1986, veio a falecer em
maio de 1987. Sua obra teatral mais conhecida foi O Mistério de Irma Vap que
misturava as referências de filmes de terror com muito do burlesco é de 1984. O
sucesso do texto teatral atravessou as fronteiras de seu país de origem – os Estados
Unidos da “Era Reagan” para chegar aqui no Brasil da “Era Collor”. O Clip “Thriller”
de Michael Jackson talvez tenha inspirado Ludlam, pois foi lançado em 1983. E
muito poderíamos hipoteticamente escrever sobre a resistência do mundo da
cultura a ascensão do neoconservadorismo através de uma nova linguagem no
suspense e no terror. Portanto, o mundo do mistério e do encanto se fez
presente nas possíveis interpretações daqueles anos 80 que a nostalgia
contemporânea esconde seus tempos sombrios. No Brasil, a novela Roque Santeiro
projetou o sucesso do professor Astromar Junqueira que se transformava num
lobisomem.
Os anos 80 foram anos de um escurecimento da vida social com as aberturas para as fraturas nas relações sociais na década seguinte. A individualização suprimindo as amizades e outros laços afetivos. O medo como constante exercício do controle das pautas progressistas. Então, poderíamos identificar uma leitura desse contexto no desenvolvimento da série Stranger Things que ganhou uma audiência mundial e crescente desde seu lançamento em 2016. A muito da memória coletiva da cultura pop e de sua força no processo de globalização. Mas persiste o mistério em relação a adesão de segmentos juvenis a um seriado no qual há muito de altruísmo em seus personagens principais. Essa preocupação com o outro e a localidade em que vivem é uma mensagem que nos permite ter esperança com os passos das futuras gerações diante dos enfrentamentos do provir. Todavia, devemos atravessar o rubicão em algum momento diante dos desafios do conhecimento que um dia teriam sido ensinados pelos “Jedis”.
O professor Scott
Clarke é uma sútil homenagem aos educadores que alimentam o exercício da
curiosidade com os benefícios da dúvida em seus alunos. Não se distanciava de
seus alunos mesmo naqueles tempos dos anos 80. Busca ser um “tradutor” dos
mistérios do universo para aqueles que desejam crescer em tempos turbulentos.
Se há um delegado investigador (Jim Hopper), não se esqueçam das chaves abertas
pelo professor investigador.
A primeira Temporada do
seriado seria um alerta sobre os perigos que circulavam nos Estados Unidos de
2016 (ano da vitória de Donald Trump) no centro oeste norte-americano. Se
Hawkins é uma localidade imaginária, o mesmo não ocorre com os resultados
eleitorais no estado de Indiana, aonde ela se localizaria massivamente
favorável a candidatura antissistema. Nada mais semelhante ao “mundo paralelo”
quanto a busca de superações das crises através da antipolítica. Então, o
desaparecimento de Will anuncia a chegada do Demogorgon como “provedor do mal”.
Não deixemos de estar atenta a possível liberdade interpretativa em que o “tempo
de Reagan” teria se congelado na mentalidade política de muitas pessoas. A
referência a sobrenatural pela via grega muito nos revela também quanto a Democracia
estaria sob ameaça nos dias atuais. O lado sombrio e seus “devoradores de
mentes”. E desvendar esse mistério em Stranger Things é um estimulante desafio
para aqueles que desejam lembrar que sempre se derrota o inimigo comum através
de unidade de todas e todos.
[1]
Esse artigo será o primeiro de uma série de artigos reflexivos sobre o que já se chama “Universo
Stranger Things”.
Excelente, aguardemos o próximo. E que educadores vejam a série e extraiam dali a importância da sua função em tempos fraturados.
ResponderExcluirexcelente!!
ResponderExcluirParabéns 👏 👏 👏 👏 como sempre excelente!!!
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluirPerfeito.