sexta-feira, 16 de julho de 2021

TEXTOS DA JUVENTUDE


 A SAGRADA (DES)POLÍTICA DA JUVENTUDE

“Quem vive de verdade não pode não ser cidadão e não tomar partido. Indiferença é abulia, é parasitismo, é covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes”.

(Antonio Gramsci)

Por Lucas Soares

Existem limites para a ação conjunta entre teoria e prática? De que vale a ação sem a análise, ou vice-versa? Reformulo: É possível solucionar um problema de uma dada realidade, sem que tanto o problema, quanto as suas soluções tenham sido geradas pelas contradições existentes entre a própria realidade material e o problema?

 Esta equação que a priori demonstrava-se solucionada no século XIX pela teoria marxiana, hoje desmonta-se no seio da sagrada juventude brasileira a qual afirma “conjurar os espíritos do passado” sob justificativas pseudo-revolucionárias invejáveis aos antigos jovens amantes do Espirito Absoluto. Justificativas que, apesar de ousarem relegar as premissas teórico-práticas que solucionaram os paradoxos que nos introduzem às indagações de escrita deste manifesto, atropelam os mesmos teóricos e intérpretes, de forma a negarem-se da análise tanto das origens de nossos problemas políticos, quanto das intervenções consequenciais dessas origens na conjuntura curta e atual.

Isto posto, miremos ao alvo: A fuga da análise do concreto, dada pelas sandices e desvios de caráter de alguns dos postulantes a preencher o vácuo existente nos espaços de atuação e teorização da grande política, lida e centrada em alicerces de bases reais, assim como em problematizações, teses, hipóteses e manifestações de cunho político e nada mais que isso, apresenta um problema que poderá ser crônico caso não se identifique e trate imediatamente. Problema este é a desconexão da juventude - a qual me enquadro e me identifico - com o real, sob forma de divisões, legendas e bandeiras de construção identitária que buscam primeiramente rotular e identificar o que é a sua tentativa de atuação política, para depois analisar os processos que buscam dar cabo. Quanto a isso, sou otimista, pois na maior parte das vezes a euforia pela identificação ofusca o desejo de entender o fenômeno que acabara de vivenciar e atuar sobre ele.  Além do mais, ao passo da existência de inúmeras frentes de identificação política, estão as rusgas entre as mesmas. 

 Neste sentido, os mesmos quadros tão distantes da realidade e entrincheirados no mundo paralelo de seus respectivos movimentos particulares e sectários, atropelam a possibilidade de constituir uma transição efetiva e bem-sucedida da geração de atores e quadros políticos. Ficamos, portanto, na estagnação. Essa imobilidade, no entanto, não é etária, e sim epistêmica.

De toda forma, quão amante do Espírito Absoluto seria eu se apenas repreendesse o problema da fuga da realidade pela juventude sem, em meio ao processo de identificação do mesmo, buscasse também entender o processo que nos levou a esse problema? É necessário encontrar nele a solução para que sua superação se encontre.

 Portanto, exposta a tese de que existe um abismo na formação de novos quadros políticos; e a antítese da fuga da realidade pela juventude que deveria ser o motor revolucionário e epistêmico de transição da política nacional; torna-se necessário, por síntese, o debate sobre o futuro que este segmento enfrentará. Afastando-se, porém, de qualquer projeção futurista, pitoresca e fantasiosa, nosso foco deve ser problema histórico real: a precarização do trabalho e a superexploração no empreendedorismo dissimulado. É inconcebível a forma pela qual tornaram-se hegemônicas algumas fraseologias e palavras de ordem que esgotam os neurônios de qualquer um que deseja, através delas, compreender a política e construir de forma democrática relações e alianças para a sublevação do cenário de calamidade que se observa. Tais expressões, de maneira oposta a intenção de quem as decora e as reproduz por osmose, esvaziam as discussões e movimentações que deveriam ser realizadas dentro do jogo democrático. Enquanto isso, ao passo de genocídios, negacionismos e fascismos, a movimentação real da política acontece. Nela, os novos atores que tentam sua transformação não são capazes de empreender uma oposição ampla que politicamente debata os estragos da pandemia na vida dos brasileiros, que estanque o sofrimento das famílias de mais de 500 mil vidas ceifadas, e que, posteriormente, pense a vida, a economia, o emprego, a saúde, e a educação pós pandemia. Sem projeto, ficaremos à mercê da terceirização e da informalidade trabalhista. Com fraseologias e sectarismo, amargaremos o desabrochar de um neoliberalismo apocalíptico para os jovens. 

Por certo, uma certeza temos: a festa da democracia se aproxima! Nesta festa, os movimentos reais da política acontecem independente das idealizações do jardim de infância revolucionário. Nos preparativos para tal evento, estou certo também da urgência pela erradicação do esvaziamento político em nossos discursos e em nossas ações. Tomar partido não é transformar a luta pela revolução em identidade. Não ser indiferente é agir de forma concreta para que as vias de acesso à superação do distúrbio neoliberal estejam cada vez mais claras próximas. Tomemos partido, jovens!


3 comentários:

  1. A falta de palanque nessas manifestações diz muito sobre o texto, o que irão dizer, quem irá dizer, quais soluções, a juventude vai as manifestações com cartazes de uma forma que só estão em suas próprias bolhas, esses líderes de partidos que apoiam as manifestações, tem que abraçar a ideia de palanque, debater soluções pós pandemia, o debate de 2022 não pode ficar só no "ele nao".

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  2. Muito bom e didático o texto. A Juventude precisa sair desta lenga lenga identitária descolada da Luta de Classes e voltar ao que interessa. A economia. Sem trabalho não há economia nem desenvolvimento e nem lucros r dividendos dos empresários. O acumulo cada vez maior de mais Renda na mão de cada vez menos gente é fruto da narrativa neo liberal de que o que importa é o "empreendedorismo" e não o trabalho. Se o mundo for só de empreendedores e não mais trabalhadores, os de baixo não terão mais dinheiro e voltarão ao escambo para sobrevivência enquanto os bilionários do mundo ganharão todo o excedente sobre o trabalho. Vamos voltar a idade média. Naquela época os senhores feudais cobravam taxas dos vassalos, com percentuais decididos por eles mesmos. Hoje os donos de aplicativos cobram taxas sobre o trabalho de quem sequer tem a clareza de que é trabalhador e acha que é "empreendedor". Parabéns pelo texto.

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  3. Muito bom,nós jovens precisamos de um despertar. Somos o futuro,sem luta não teremos um digno.

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