Januário
Garcia: O que aprendi?
Por Vagner Gomes
de Souza
Na longa transição democrática, iniciada com a vitória
da oposição em 1974, teve uma grande contribuição da TVE (TV Educativa) se
renovou como um espaço crítico até do Governo Federal. Uma rede de televisão
educativa que não se fechava na condição de ser “chapa branca” para ser transformar
numa possibilidade de espaço de comunicação aberto e de produção de grandes
reflexões. Financiados pela Rede Globo e produzidos pela TVE, surgiram dois bem
sucedidos seriados da teledramaturgia infantil: Pluft, o Fantasminha (1975) e
Sítio do Picapau Amarelo (1977).
Flávio Migliaccio, com
o personagem “Tio Maneco”, fui conhecer a partir de 1981 através dessa sua participação
nessa rede de TV pública. Muitos outros estavam na TVE como Osvaldo Sargentelli
com sua voz no programa “O Advogado do Diabo” (programa proibido com o advento
da Ditadura Militar). Ziraldo que chegou a entrevistar o saudoso Bussunda. E não
poderei esquecer-me do sucesso do programa “Sem Censura”, que era um programa
de entrevistas com uma bancada de moderadores convidados sob a apresentação de
Lucia Leme
Minha recordação de
Januário Garcia vem do programa “Sem Censura” que foi um programa que ocupou o
segundo lugar em audiência vespertina em 1987. Era uma época em que tínhamos um
Nelson Mandela ainda nas prisões do Aphartheid e aquele fotógrafo que falava em
nome do IPCN me chamou muito a atenção. Sua fala, para mencionar um verbo
versátil na língua portuguesa, era possível para que todos assumissem. Ouvir as
entrevistas ou as participações de Januário Garcia era uma oportunidade para se
aprender como a “mineirice” celebrada num artigo de Gilberto Freyre poderia
explicar uma característica desse personagem carioca que me parece que nunca
recebeu o título de Cidadania da Cidade Maravilhosa no qual ele veio morar após
a morte de sua mãe em 1955.
A importância das
culturas negras num mosaico que integra a história do Brasil foi um impacto em
minha adolescência ao assistir o “mineiro/carioca” pela TVE. E estávamos próximos
das comemorações do Centenário do 13 de maio de 1888. Januário Garcia marcou
uma firme posição pela importância da data nas efemérides do Movimento Negro no
âmbito da percepção da importância das instituições e da negociação política
numa conquista maior. Então, era fundamental reconhecer no 13 de maio um grande
dia para aqueles que pensávamos em fazer a militância do movimento sempre
ampliando em espaços diversificados e incluindo todos.
Hoje soube da despedida
de Januário Garcia. E essas minhas lembranças que compartilho me faz pensar o
quanto um processo de transição política faz emergir muitos educadores pela via
da cultura. Sempre tive o desejo de conhecê-lo pessoalmente, mas não foi
possível. Entretanto, aqui fica esse registro do quanto fui um pouco seu aluno
quando contribui modestamente na fundação do Centro de Divulgação das Culturas
Negras (CEDICUN) no bairro de Campo Grande em 1988.
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