quinta-feira, 1 de julho de 2021

NOTA SOBRE JANUÁRIO GARCIA (1943 - 2021)


 

Januário Garcia: O que aprendi?

Por Vagner Gomes de Souza

 

Na longa  transição democrática, iniciada com a vitória da oposição em 1974, teve uma grande contribuição da TVE (TV Educativa) se renovou como um espaço crítico até do Governo Federal. Uma rede de televisão educativa que não se fechava na condição de ser “chapa branca” para ser transformar numa possibilidade de espaço de comunicação aberto e de produção de grandes reflexões. Financiados pela Rede Globo e produzidos pela TVE, surgiram dois bem sucedidos seriados da teledramaturgia infantil: Pluft, o Fantasminha (1975) e Sítio do Picapau Amarelo (1977).

Flávio Migliaccio, com o personagem “Tio Maneco”, fui conhecer a partir de 1981 através dessa sua participação nessa rede de TV pública. Muitos outros estavam na TVE como Osvaldo Sargentelli com sua voz no programa “O Advogado do Diabo” (programa proibido com o advento da Ditadura Militar). Ziraldo que chegou a entrevistar o saudoso Bussunda. E não poderei esquecer-me do sucesso do programa “Sem Censura”, que era um programa de entrevistas com uma bancada de moderadores convidados sob a apresentação de Lucia Leme

Minha recordação de Januário Garcia vem do programa “Sem Censura” que foi um programa que ocupou o segundo lugar em audiência vespertina em 1987. Era uma época em que tínhamos um Nelson Mandela ainda nas prisões do Aphartheid e aquele fotógrafo que falava em nome do IPCN me chamou muito a atenção. Sua fala, para mencionar um verbo versátil na língua portuguesa, era possível para que todos assumissem. Ouvir as entrevistas ou as participações de Januário Garcia era uma oportunidade para se aprender como a “mineirice” celebrada num artigo de Gilberto Freyre poderia explicar uma característica desse personagem carioca que me parece que nunca recebeu o título de Cidadania da Cidade Maravilhosa no qual ele veio morar após a morte de sua mãe em 1955.

A importância das culturas negras num mosaico que integra a história do Brasil foi um impacto em minha adolescência ao assistir o “mineiro/carioca” pela TVE. E estávamos próximos das comemorações do Centenário do 13 de maio de 1888. Januário Garcia marcou uma firme posição pela importância da data nas efemérides do Movimento Negro no âmbito da percepção da importância das instituições e da negociação política numa conquista maior. Então, era fundamental reconhecer no 13 de maio um grande dia para aqueles que pensávamos em fazer a militância do movimento sempre ampliando em espaços diversificados e incluindo todos.

Hoje soube da despedida de Januário Garcia. E essas minhas lembranças que compartilho me faz pensar o quanto um processo de transição política faz emergir muitos educadores pela via da cultura. Sempre tive o desejo de conhecê-lo pessoalmente, mas não foi possível. Entretanto, aqui fica esse registro do quanto fui um pouco seu aluno quando contribui modestamente na fundação do Centro de Divulgação das Culturas Negras (CEDICUN) no bairro de Campo Grande em 1988.

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