Adeus, Xexéo
Aos
85 anos de Oduvaldo Vianna Filho (in
memorian)
Por
Pablo Spinelli
O
jornalista, dramaturgo e amante do cinema Artur Xexeo nos deixou no início
dessa semana, dia 27 de junho. Pertencente a uma geração de jornalistas forjada
na Ditadura Militar, Xexéo fez da cultura e da cidade do Rio de Janeiro a sua
trincheira de luta na transição do regime. Crítico sem sectarismo à televisão,
ele muito contribuiu para a análise da transição da televisão dos anos 1980 aos
1990 onde imperou os realities shows e uma decadência da qualidade das
produções televisivas.
Porém,
a maior contribuição das colunas dominicais de Artur Xexéo com os seus “17
leitores” e a “Dona Candoca”, personagem alter ego que era uma senhorinha
crítica de TV, reside no tema da memória. Entusiasta - pela formação e
contingências familiares, como escreveu em várias colunas, - dos anos 1950 e
1960, Artur Xexéo de certa maneira dialogava com dois grandes cronistas da cena
carioca que o antecederam – Sério Porto e Antonio Maria, mais o primeiro do que
o segundo. Cronista do cotidiano dessa época, Xexéo mostrou como o Rio de
Janeiro era uma cidade amante do cinema, onde Cinelândia era um nome com a sua
razão de ser por conta de mais de uma dezena de cinemas na região, assim como
Copacabana que serve, dentre outros motivos, como termômetro da decadência da
cidade a partir do fechamento das salas do cinema Roxy, algo que Xexéo
provavelmente escreveria, ainda mais como morador do bairro.
O
jornalista sempre teve como grandes referências da memória cultural as mulheres
como Bibi Ferreira, Hebe Camargo, Janet Clair, Sonia Mamede, Wanderléa, dentre
outras. A sua análise de filmes, mesmo que discordante em vários pontos com
esse signatário, era importante pelo uso da linguagem coloquial chegar ao
grande público e por ter como referência uma indústria do cinema que tem que
ser mantida pela memória, algo similar ao que fazia Rubens Ewald Filho.
Coube
à história uma ironia. Artur Xexéo se foi no mês que se comemora o cinema
brasileiro. Uma data difícil de comemorar quando se percebe uma política de
sucateamento e destruição da memória a partir do fechamento da Cinemateca em
São Paulo cujo acervo tem mais de 10 mil filmes que incluem longa-metragem,
curta-metragem, cenas do Canal 100 e da participação dos bravos soldados da FEB
antes e após a vitória sobre os fascismos. Segundo o jornalista do UOL, Ricardo
Feltrin, funcionários que foram demitidos – a Cinemateca está sem funcionários
e os filmes sem manutenção, o que pode gerar um incêndio pior do que o do Museu
Nacional ou ainda, a deterioração natural dos filmes – relataram que já
perdemos cerca de 600 a 1000 filmes pelos motivos expostos. A Cinemateca, que
ia ser dirigida por aquela que foi sem nunca ter sido, agora está sendo malhada
a ferro frio pela indigência mental que ocupa a cadeira mais importante da área
cultural no governo federal. A nossa torcida é que as crônicas de Xexéo sejam
lidas pelo resgate da memória da cultura nacional pelo viés da democracia.
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