Qual é o valor da morte?
Por Lucas Soares
”A
vergonha já é uma revolução; [...] Vergonha é um tipo de ira voltada para
dentro. E se toda uma nação realmente tivesse vergonha, ela seria como um leão
que se encolhe para dar o bote” (MARX, 2015, p. 14).
“Não
se humaniza a vida numa sociedade como a nossa sem conflito”. Foram
estas as palavras proferidas pelo líder religioso e membro da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo,
Júlio Renato Lancelotti quando tomado por críticas e ataques do campo
reacionário, derivadas de suas ações assistencialistas em prol dos moradores de
rua, em setembro de 2020, na cidade de São Paulo. Curiosamente, sob aquele
mesmo contexto, encontrava-se o Brasil otimista em virtude do segundo mês de
involução nos números de óbitos pelo vírus que devastava todo o mundo e
colocava em xeque, como em uma partida de xadrez, peões e reis.
Oposto ao jogo
de origem asiática onde elementos inanimados do exército, separados em dois segmentos,
batalhavam por posições no tabuleiro em prol da vitória de seus respectivos
reis, o novo contexto pandêmico, ao
contrastar peças políticas de forças nada equivalentes, evidenciava cada vez
mais um velho dilema: Quem deve
sobreviver? Os Peões ou os Reis; A Grande Burguesia ou o Trabalhador; A
economia ou vida; Seriam estes, utilizando a categoria de Georg Lukács,
existências reificáveis? Existia mesmo uma linha tênue entre os pólos? Era
realmente preciso salvar um, ao preço da morte do outro? Analogias e questionamentos
à parte se sabem que hoje, seis meses após a declaração do muitíssimo bem
intencionado pároco da pequena
Igreja São Miguel Arcanjo, decidiu-se, no bojo de declarações das autoridades
federais, dotadas de omissão e negacionismo ao conhecimento científico, por uma
política pública desumanizante que tenta desastrosamente dar vida ao mercado e
ao “empreendedorismo tacanho” enquanto transforma em números a morte de
milhares de seres humanos.
Exposta a catastrófica
e fúnebre conjuntura a qual nos encontramos, realinhemos nosso foco ao que
motiva a declaração de Júlio Lancelotti e consequentemente traz a tona nossos
questionamentos: A defesa da vida. O que a sociedade civil, respeitando as
respectivas impossibilidades de nossa realidade pandêmica, tem mobilizado para
efetivamente conflitar essa sociedade que, como dissera Rousseau, mais se assemelha
a uma “selva habitada por feras
selvagens”? A reabilitação do amor ao próximo, - sentimento assiduamente
presente nos sermões e ensinamentos de um importante personagem histórico –
quase uma utopia frente à ideologia individualizante do neoliberalismo, deve
servir como a base da retomada pela valorização da vida e para o enfrentamento
das contradições resultantes do processo reificante dos setores que não estão
protegidos pela invisible hand, resultando,
sendo assim, em incontáveis mortes chanceladas por um discurso de
irresponsabilidade teórica e por seguidas demissões no cargo que deveria capitanear
as gestões de risco e, sobretudo, salvar vidas.
Reflexão incrível sobre o momento pandêmico que estamos vivendo, texto incrivelmente coeso. Temos que continuar lutando pelo SUS e pelo bem público contra as forças neoliberais.
ResponderExcluirO Sistema Único de Saúde precisa ser defendido! Fico feliz por ter concordado com as ideias.
ExcluirFicou muito bom, Lucas!!
ResponderExcluirObrigado, Alice!!!
ExcluirTexto importantíssimo para refletirmos em que sociedade estamos vivendo hoje. Como bem dito, devido às políticas neoliberais, o individualismo reina em nossa sociedade. Como consequência, pessoas que pertencem à classe trabalhadora tem suas vidas consideradas sem nenhuma importância. Precisamos, de maneira urgente, pensar se é essa a sociedade que queremos para um futuro muito próximo. Obrigada por essa reflexão e por dar ênfase a políticas públicas de saúde!
ResponderExcluirPerfeito, Maria! Precisamos, dentro da realidade, de uma juventude disposta a superar esse individualismo liberal. Conto com você!
ResponderExcluirO artigo tem uma precisa imagem de um filme o que demonstra uma crítica do autor ao fator religioso nesse momento da Pandemia. A Epígrafe resgata um livro de Karl Marx da Juventude que quase ninguém leu ou compreendeu. Agora, o autor tem o desafio de 40 anos no deserto para explicar o apoio de 44% dos jovens entre 16 - 24 anos ao Presidente. Aguardaremos.
ResponderExcluirExplicarei no próximo artigo!!! Quanto ao Marx, tive um velho camarada muito bom em formação. Enfim, a juventude, a partir de agora, tem algumas tarefas.
ExcluirMuito bom Lucas, acho importante que os Jovens tenham mais responsabilidade com a situação caótica, temos que por os pés no chão, e partilhar dos conhecimentos e ser solidários nesses momentos, aonde o Brasil está entrando em colapso.
ResponderExcluirHora de partir para a ação!!!
ExcluirFicou top irmão discordo mas ficou top te amo sucesso sempre
ResponderExcluirMe manda suas discordâncias, irmão. Precisamos voltar a conversar.
ExcluirEnquanto,vivemos esse dilema,vidas são ceifadas por não haver políticas públicas em prol de nós.
ResponderExcluirE nem há a preocupação, pelo menos nesse governo, de superá-lo.
ExcluirParabéns pelo artigo, ficou incrível!!!!
ResponderExcluirObrigado!!! ❤️
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