A
Família em Vertigem
Por Pablo
Spinelli
Vagner Gomes de
Souza
“Palavras não bastam, não dá pra entender
E esse medo que cresce não para
É uma história que se complicou
Eu sei bem o porquê
Qual é o peso da culpa que eu carrego nos braços
Me entorta as costas e dá um cansaço
A maldade do tempo fez eu me afastar de você (...)”
A Noite – Tiê
A Pandemia do COVID19
destruiu muitas famílias com a injustificada antecipação de muitas perdas de
vidas que pode ser responsabilizada pelos governantes que deviam zelar pelas
famílias brasileiras. Essa não é uma contradição uma vez que é a burguesia que
aboliu os laços familiares na Revolução Industrial, conforme antigo Manifesto. As crianças exploradas e
definhando no espaço fabril do século XVIII tinha como meta que a economia não
poderia parar. A economia já estava
parada no raquítico 1% do PIB quando muitas famílias foram confrontadas com
a realidade de uma emergência sanitária. Sem os elos da qualidade na educação
diante da asfixia das escolas fechadas sem uma alternativa democrática de
acesso ao ensino remoto, os laços familiares passaram por abalos mais do que
tectônicos que pela via da antropologia abraçou a rota do conformismo nos
“tumbeiros” das periferias.
A família e seus
valores se arruinaram ainda mais com a precarização do mundo do trabalho. A via
do trabalho massificado nas entregas por aplicativos e nos deliverys atomizaram
ainda mais nossos laços sociais. A uberização de nosso país dava saltos largos.
A família estava mais disciplinada para promover o “distanciamento social” no
momento das comemorações da Páscoa e das Mães. Todavia, ao se negar a educação
só houve a viralização do negacionsimo da ciência diante da ilusão de que não
se deve temer aquilo que não se vê porque há um “ser supremo” que não se vê e
está a zelar por todos. Era só o “orai” sem o “vigiai”. E no meio desse caminho
há um Messias que deu um outro olhar para o que seria o empenho na defesa da
família, basta ver seu silêncio para a família do senador do Rio de Janeiro que
o apoiara na eleição onde ambos ganharam. O americanismo conservador de Roberto
Da Matta foi se impondo aonde aquilo que se mostra uma “casa” das redes sociais
desconectada com a realidade de miséria que se observa nas ruas.
As “famílias dos
coletivos” teriam valores mais invejosos que Caim ao decidir matar Abel por
desejar um reconhecimento do Criador. José foi vendido como escravo no Egito
antigo pelos irmãos, mas soube fazer a reconciliação pois no centro estava a
palavra AMOR. Antes, Noé anunciou a vinda do dilúvio para os negacionistas
daquele mundo que se foi em água. Em sua arca reunia familiares e buscou salvar
vidas. Enfim, eis esses primeiros exemplos para que não se espalhem as
“fakenews” de que estamos a fazer um longo texto contrário aos ensinamentos do
cidadão cristão do bem. Entretanto, os contágios dos atalhos dos interesses mal
compreendidos levaram a essa situação no qual as famílias precisarão escolher
em retomar o distanciamento social em pleno Natal. Uma vez que a ideia de uma
Quarentena ou lockdown (que nunca houve no Brasil) ganhou espaço no imaginário
dos jovens como um longo tempo de nada se fazer e algo a pegar, seja covid,
seja uma bicicleta para entrega, seja uma arma ou uma bíblia que não seria
aberta e estudada. Pesquisemos nas redes sociais, mais uma vez, que esse foi um
roteiro que aos poucos virou consenso nas cabeças dos jovens ao contrário de se
fazer o ensino da disciplina da paciência. Imaginemos essa juventude diante do
cerco a Stalingrado em plena Segunda Guerra Mundial. O que fariam os jovens?
As famílias doloridas
estão diante de uma tomada de decisão entre a celebração do material ou fazer
viver a vocação do AMOR para se distanciar de seus entes queridos nessas
comemorações de fim de ano. Foi nesse espírito comovente que a animação “A Vida
é uma Festa” foi revista por nós por um veículo identificado com uma matriz do
imperialismo cultural (a outra face do malfadado “marxismo cultural” paranoico)
– o canal da Disney. Não perderemos mais palavras com esse falso debate
“decolonial” pois o fundamental é a inserção do campo democrático no
acolhimento da questão familiar. Sua melhor base jurídica está na sempre
atacada Carta Constitucional de 1988 no qual o Artigo 226 define “A família,
base da sociedade, tem especial proteção do Estado.” Esse é um elo que os
descaminhos econômicos ultraliberais de Paulo Guedes ameaçam. Assim, se
introduz nossa leitura dessa animação com “cores” muito adultas.
Além da morte
“morrida”, termo do nosso Nordeste, a produção do diretor Lee Unkrich, há
a abordagem de um tema que destoa das mortes das produções Disney e mais
próximas do universo Pixar (vide Up – Altas Aventuras): a morte da memória. Os
idosos precisam ser revividos e os mortos lembrados – mas, como em texto
célebre de Marx, não podem nos governar -, um dos alvos preferenciais do capitalismo
do século XIX adotado pelo atual governo federal e referendado pelos
jornalistas de opinião em canais cujos patrocinadores são do...sistema
financeiro. Agora, como trazer mais leveza num contexto de morte e perda?
Música, algo que remetemos às lives para aqueles que têm acesso à internet
nesses dias de pandemia. A animação mostra que a música pode ser tão
universalista quanto o cristianismo; ao invés de um particularismo, o infinito universal que conecta por
pétalas o mundo dos mortos com o mundo dos vivos em uma harmonia melhor que a
dicotomia desses espaços na excelente animação A Noiva-Cadáver, de Tim Burton.
Nesse final de ano, onde parentes estão distantes, o décimo-terceiro dos
funcionários do Rio de Janeiro, ausente e um governo federal que tem vários
esqueletos nos armários rachados; doentes com ou sem leito; idosos com ou sem
aposentadoria; crianças sem escolas; a ciência e Jesus cantam: Lembre de mim!
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