A
Fortaleza Narrativa de Bolsonaro
Dedicado à
memória de Flávio Migliaccio
Por Vagner Gomes
de Souza
Há dois meses muitos
Governadores e Prefeitos adotaram medidas de distanciamento social para reduzir
o impacto da pandemia do COVID19 no sistema público de saúde. O temor de um
colapso generalizado da saúde sensibilizou muitos brasileiros naquilo que
poderia representar um momento de unidade nacional. Contudo, já destoando com o
então Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a Presidência da República
começou uma gradual narrativa de minimizar a situação da crise de saúde diante
do perigo de um caos econômico social a ser gerado pela paralisação da
economia.
Muitos ingênuos
analistas que acreditaram num Presidente mais próximo da “ética da
responsabilidade” no decorrer de um mandato presidencial ao contrário do
Deputado de Extrema-direita de uma “ética da convicção” se viram decepcionados,
pois não teriam ainda percebido que a “alma” da gestão de Bolsonaro é a
política ultraliberal do Ministro da Economia Paulo Guedes. O silêncio do Ex-ministro
Sergio Moro relativas aos Decretos dos Governadores e Prefeitos sugere que a
fratura do núcleo governista ocorreu nesse processo em que o mandatário federal
faz a escolha de uma política econômica em nome dos “empresários da morte” que
marcharam em direção a uma constrangedora reunião com o Presidente do STF.
A crise da Pandemia
seria acompanhada pelo aprofundamento da crise econômica (não esqueçam que o
PIB de 2019 foi menor que o de 2018 mesmo com as liberações do FGTS). Ninguém
poderia contar com a opção de um Presidente “cruzadista” medieval. Um cavaleiro
que vestisse a “armadura” de uma narrativa de defender empregos sem nunca
convocar a sociedade para um “pacto social” em favor da ampliação do
investimento público no pós-pandemia. Muito pelo contrário, a gestão do
Ministério da Economia foi “covarde” (na falta de um termo mais acadêmico) ao
propor um auxílio emergencial no valor de R$ 200 (a ampliação para as faixas de
600 e 1200 foram resultados da atuação do Congresso Nacional que emergiu como
uma instituição relevante apesar da baixa qualidade de muitos de seus
integrantes).
Além disso, o Ministro
da Economia se preocupou com insinuações de um novo “funcionário público”
marajá com a geladeira lotada de alimentos sem dar alternativas para que os
Governadores e Prefeitos façam uma gestão da crise com maior folga
orçamentária. Enquanto isso aumentava o desemprego e o Governo Federal (com
certeza com orientação do Ministro Ultraliberal) encaminhou a MP da redução da
jornada de trabalho com redução salarial e não criou uma linha de crédito em
condições de beneficiar os micros, pequenos e médios empresários. Um profundo
silêncio sobre a eminência da precarização do mercado de trabalho à medida que
a narrativa continuava na “tecla” da defesa da economia. Uma economia que já
estava muito desigual não se pode defender. Deveria começar a adoção de uma
nova política econômica o que implicaria numa outra “alma” para governar.
O ultraliberalismo de Paulo Guedes não se
sente maculado com as políticas de ampliação de assistência social uma vez que
elas contribuem para a desorganização da classe trabalhadora. A política
econômica ultraliberal não tolera é o investimento público que organize a expansão
econômica menos dependente do sistema financeiro. Portanto, os analistas de
plantão da política nacional cometem um equívoco ao avaliarem que Paulo Guedes
caia por qualquer ampliação do chamado “assistencialismo”. Muito pelo
contrário. Essa seria a linha de argumentação para aprofundar as chamadas
reformas econômicas. Nesse sentido, a ascensão dos grupos políticos do “Centrão”
não seria uma contradição no quadro da política federal. De onde surgiu o
Senhor Presidente? Quem o levou para a boa prática de frequentar os templos
religiosos como “burgos” eleitorais? Quem é Onix Lorenzoni? Aliás, o “Centrão”
tem seu DNA também na gestão do “malufismo” em plena Ditadura Militar muitas
vezes apresentada como refratária as práticas da corrupção.
A fortaleza narrativa
do Jair Messias Bolsonaro segue mobilizando a grande cavalaria medieval da
elite econômica dos ultraricos com apoio de uma ampla margem de “escudeiros” à
margem das relações sociais de produção por causa do “mito”, que uma parcela de
intelectuais de esquerda teria vendido para um segmento liberal mais progressista,
da chamada “nova classe média”. De fato, emergiu uma “ralé social” ressentida
em diversos aspectos (incluindo o psicossexual) que se alimentou na
desqualificação da política e de uma postura de desmoronamento da muralha do “centrismo
político democrático”. A crítica ao “presidencialismo de coalizão” nasceu na
academia que hoje é tachada de “comunista” pelo bolsonarismo ideologizado.
Diante disso, o caminho a se construir é para que haja uma repactuação das
forças de esquerda com o campo do “centro político” já na apresentação de
alternativas para as classes populares nesse grave crise que enfrentamos.
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