O Segundo Turno Presidencial: a política do desgosto com o
Brasil
Por Vagner Gomes de Souza
O primeiro debate
dos presidenciáveis veiculado na Rede Bandeirantes no dia 14 de outubro
reforçou a “pequena política” do moralismo ao abordar o uso da coisa pública em
nosso país. A polarização da política brasileira com o PT e o PSDB está se
restringindo a uma sequência de acusações de corrupção e de “aparelhamento do
Estado” seja na esfera política nacional ou nas gestões administradas pelos
“tucanos”. As duas forças políticas que estão na hegemonia nacional desde 1994
não estão formulando uma campanha esclarecedora e propositiva. Falta uma
esquerda democrática que intervenha nesse processo para os próximos dias sob o
perigo de continuarmos com um déficit democrático.
Vivemos no “atraso
da política” que permite um distanciamento da sociedade civil da participação.
Uma vez que os partidos políticos hegemônicos estão se rotinizando na/para
competição eleitoral, percebemos que o sistema político sofre entraves para
encaminhar uma reforma mesma que seja gradual. A relação entre a democracia e a
construção do Estado-Nacional se faz presente nessa análise sobre o processo em
que vivemos. Em outras palavras, é a Democracia ESTÚPIDOS! Ela que está em jogo
para as próximas décadas diante da presença de duas vertentes políticas
herdeiras dos Luzias e Saquaremas do Século XIX.
Numa entrevista
para o BLOG desenvolvimentistas (postado em 21/07/2012), Christian Lynch faz
essa sugestão ao comparar o PT/Lulista aos “neosaquaremas” e os “tucanos” aos “neoluzias”.
Segundo ele, “(...) para os ‘neoluzias’, o povo é a classe média, enquanto para
os ‘neosaquaremas’ o povo é o trabalhador”. O debate sobre o papel do Estado é
relevante para esse cenário quanto aos mecanismos de intervenção da sociedade
na política, o que seria uma forma de se questionar sobre a importância de
reformas pontuais na legislação partidária e eleitoral. O PT/Lulista teve muita
força do moralismo em sua trajetória política o que sofreu um aggiornamento quando esse assume seus
anos de Governo. A política econômica deu continuidade aos marcos
macroeconômicos do PSDB com condições políticas de avançar mais no social.
Enquanto isso, lideranças políticas dos movimentos sociais foram cooptadas para
o interior do Estado. Assim, a recente burocratização de lideranças políticas
dos segmentos sociais impediu a renovação dos quadros da esquerda e seus valores
democráticos.
Os novos sujeitos
sociais emergem na periferia de nossa recente ascensão capitalista sem que haja
pontes com os canais de diálogo com as instituições democráticas cada vez mais arcaicas
e envelhecidas. Nos dizeres de Lynch, “(...) marxistas puros são luzias de
esquerda, acham que o Estado é capturado por uma classe social, que não tem
vida própria”. As manifestações de junho de 2013 não reforçaram a esquerda
democrática uma vez que foram mobilizações de “desgosto” com a política e a
democracia em geral. Há muitos temas importantes a serem levantados nos debates
políticos desses últimos dias de campanha eleitoral. Em primeiro lugar,
reconhecer o esforço da atual mandatária presidencial em garantir um diálogo
com segmentos da sociedade mesmo que sem suas consequências na correlação de
forças políticas de seu Governo e de seu Partido. Por outro lado, a unidade das
oposições tem seu papel pedagógico para que se compreendam a importância da
diversidade programática.
Não se trata da
ausência de uma “terceira via” que permitiu chegarmos a esse ponto. Foi a falta
de mobilização do campo democrático nesses descaminhos da política
contemporânea. A esquerda democrática não se deve limitar a votar seja em “neoluzias”
ou “neosaquaremas”, mas é momento de reagrupar as forças democráticas liberais
e socialdemocratas. Fazer a confrontação de ideias emergirem nos próximos dias
e relembrar que ainda estamos construindo a democracia no Brasil.
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