quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CARTAS DE UM NOVO ABOLICIONISMO


Temas sobre o Conformismo
Por Joaquim Ocuban
Uma rápida leitura nas anotações de Antonio Gramsci sobre o “conformismo” nos Cadernos do Cárcere permite atuar nesse mundo de despolitização. O estudo da filosofia da práxis era o método de intervenção política do dirigente comunista italiano em tempos de fascismo. Em primeiro lugar, ele ressalta que fazemos parte de um senso comum apropriado a sermos conformados com pensamentos de longa data. Sua crítica estaria na sedimentação passiva desses elementos opinativos do passado. A formação de um sentimento de conformismo social poderia ser um registro da sociedade de massas. Estamos percebendo que há aqui um bom tema de filosofia política para interpretar gerações formadas coletivamente por um processo educativo em déficit com o elemento crítico.
A intervenção humana é importante nesse sentido para que teses conformistas sejam questionadas em seu conteúdo conservador ou mitificador. Os mitos são fáceis de se proliferar diante do medo do Leviatã que a sociedade sofre nos grandes centros urbanos. A legalidade e a institucionalidade estão em segundo plano diante de uma formação conformista que está na base da luta cotidiana pela sobrevivência do ser humano.
Entretanto, essa postura fortalece a dinâmica de grupos a serviço de uma acumulação selvagem de riqueza que rotiniza ações violentas e o afastamento dos mais pobres da participação política. A herança maldita do conformismo pode se expressar no individualismo e/ou na falta de ações coletivas. Para além disso, muitos expressam um discurso anti-democrático sem se dar conta. Vejamos o exemplo do questionamento dos direitos humanos para os “apenados” entre os mais pobres que são manipulados pelos meios de comunicação de massas. Não percebem que os direitos humanos é uma luta para toda a sociedade e que implica na libertação de outras prisões. A prisão do assistencilismo, a prisão do voto como sistema de troca de favores, a prisão do medo de grupos para-militares que atuam como novas GESTAPO privatizadas como observamos em Tropa de Elite 2. Um filme que representa uma aula sobre o “mercado do voto” para milhões de jovens que pediam um Capitão Nascimento do Apocalipse do tráfico. Um professor ganha importância no enredo dessa trama contra o conformismo.
Diante dos fatos recentes na política carioca, nada justifica viver um mundo das trevas em pleno século XXI. Isso implica em convidar os leitores a serem reflexivos em suas ações. E, mais importante, não deixar de agir por mudanças mesmo que moleculares. Um pouco mais de democracia é saudável na sociedade brasileira. Um pouco mais de cultura política pela ampliação da democracia. Nesse momento, verificamos que a educação tem um papel importante na competição com as forças do conformismo. Os professores são pequenos intelectuais a serem disputados pelas forças democráticas, porém uma categoria que está na prisão do economicismo salarial também pode conviver com seus fantasmas conformistas. Por isso, um movimento juvenil é necessário que suplante esses limites para enfrentar uma visão gerencial e economicista da educação brasileira. Educação como formação de trabalhadores e jovens críticos é nossa proposta diante de todas essas propostas educacionais de massificação do ensino conformista.

Um comentário:

  1. Diante de uma sociedade que sofre uma manipulação midiática indireta, onde a classe dominante dissemina o misticismo e o consumismo desenfreado para gerar uma psicoadaptação nas classes desfavorecidas,e logo o conformismo, somente a educação traz um vislumbre da esperança.
    É preciso que haja uma modificação no ônus educacional, desde a plataforma administrativa até a ideológica do método pedagógico utilizado.Esse conhecimento engessado que o sistema adota não é capaz de formar nos alunos a visão crítica; recompensando a boa memória e escarnecendo o senso crítico.
    É preciso que haja uma flexibilização dos metodos educacionais, que hoje são regidos por um fundamentalismo que se estende desde séculos passados, e que sempre foi adulterada com os interesses da burguesia.
    O texto foi muito bem escrito, e esclarecedor.

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