quarta-feira, 6 de novembro de 2024

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 066 - UM ALERTA PARA AS FORÇAS DEMOCRÁTICAS



Mulheres em Guerra

Por Vagner Gomes de Souza[1]

 

Nossos “analistas de plantão” sobre as eleições norte-americanas devem ter esquecido as considerações de Nicolau Maquiavel, pois a Guerra seria um assunto da política. O “pai da Ciência Política” estaria incomodado com aqueles que considerassem os atributos de um “negociador a blefar” como elemento de comportamento eleitoral. Na verdade, a Guerra é parte integrante da história dos EUA que passaram por uma Guerra Civil na luta pela emancipação dos escravos em tempos do republicano Abraham Lincoln. Não levar essa variável na derrota de Kamala Harris se deve muito aos vícios de chegar a análise com as conclusões previamente moldadas num mundo de “poalarização”.

Como não considerar dois conflitos armados e que tem apoio financeiro e logístico dos norte-americanos na escolha do eleitor norte-americano? Em 2020, Trump foi punido na “Guerra do Covid” pelo seu negacionismo. Agora, o negacionismo da “Guerra Fria barroca” de Biden que impacta numa inflação com tendências sistemática fez os democratas amargar uma derrota em maior escala que a de 2016. Lembremos de Bush pai que perdeu nos anos 90 após a intervenção no Kwait. Em seguida, os “custos da ocupação” no Afeganistão e no Iraque que ajudaram na campanha de Barack Obama como se observa no livro pouco lido no meio acadêmico e político brasileiro Uma Terra Prometida. Assim, recomendo a leitura de meu artigo “Tudo começou com o Afeganistão”[2] sobre a derrota política de Biden no debate para Trump que levou a pragmática candidatura de Harris.

Mudou-se o nome, mas a continuidade da política de “Guerra Fria barroca” foi um fator determinante na derrota do 05 de novembro. Se a perda de patrimônio é mais relevante que a morte do pai nos dizeres de Maquiavel, como não pensar que o eleitor comum americano não atribuísse a ajuda financeira e militar à Ucrânia e ao apoio militar a Israel como um fator de suas mazelas. As mulheres no mundo em guerra desamparadas e os democratas negando o óbvio e muitos plantonistas do noticiário, alinhados ao anacronismo da política externa barroca de Biden, se silenciam nesse momento sobre uma vitória que não foi “apertada”. Os chamados “estados pêndulos” penderam para a uma forte punição a esse caminho que não corresponde com os preceitos da Frente Democrática.

Entretanto, a negação da “Guerra Fria barroca” não significa uma trilha democrática, pois a literatura do populismo, alimentada pela filosofia política de Carl Schmitt, encontrou nos chamados “inimigos internos” uma nova Guerra para mobilizar o eleitorado que se sente prisioneiro dentro de seu país. O Sonho Americano morreu num momento muito delicado para os desafios da democracia. Entendemos que teremos um prolongamento desse mal-estar político por décadas uma vez que o iliberalismo ganha capacidade de interpelação da sociedade globalizada.

Mirem-se no exemplo das mulheres afegãs na retirada das tropas americanas desamparadas. Nas viúvas dos palestinos e que perdem seus filhos em Gaza. Na mãe da filhinha brasileira no Líbano que está desesperada. Das mulheres ucranianas e russas que se despedem de seus guerreiros eslavos. São aquelas mulheres que vive uma guerra e estão silenciadas. Agredidas e nada lhe são apresentadas, pois venceu a ideia de fechar a fronteira com o México num “Guerra Fake” as drogas.

Lamentamos, mais uma vez, o silêncio das forças democráticas no Brasil sobre o livro O império da Dor e ainda não observamos uma consequente ação sob o impacto das eleições municipais aqui. O nosso país deve agora se readequar a nova realidade nas urnas daqui e de alhures, mas como é difícil se afastar do sectarismo ideológico. Fique assim mais esse alerta de analista da política.



[1] Doutorando de Ciência Política no PPGCP-UNIRIO.

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