Mulheres
em Guerra
Por Vagner Gomes
de Souza[1]
Nossos “analistas de
plantão” sobre as eleições norte-americanas devem ter esquecido as considerações
de Nicolau Maquiavel, pois a Guerra seria um assunto da política. O “pai da
Ciência Política” estaria incomodado com aqueles que considerassem os atributos
de um “negociador a blefar” como elemento de comportamento eleitoral. Na
verdade, a Guerra é parte integrante da história dos EUA que passaram por uma
Guerra Civil na luta pela emancipação dos escravos em tempos do republicano Abraham
Lincoln. Não levar essa variável na derrota de Kamala Harris se deve muito aos
vícios de chegar a análise com as conclusões previamente moldadas num mundo de “poalarização”.
Como não considerar
dois conflitos armados e que tem apoio financeiro e logístico dos norte-americanos
na escolha do eleitor norte-americano? Em 2020, Trump foi punido na “Guerra do
Covid” pelo seu negacionismo. Agora, o negacionismo da “Guerra Fria barroca” de
Biden que impacta numa inflação com tendências sistemática fez os democratas
amargar uma derrota em maior escala que a de 2016. Lembremos de Bush pai que perdeu
nos anos 90 após a intervenção no Kwait. Em seguida, os “custos da ocupação” no
Afeganistão e no Iraque que ajudaram na campanha de Barack Obama como se
observa no livro pouco lido no meio acadêmico e político brasileiro Uma Terra Prometida. Assim, recomendo a leitura
de meu artigo “Tudo começou com o Afeganistão”[2]
sobre a derrota política de Biden no debate para Trump que levou a pragmática
candidatura de Harris.
Mudou-se o nome, mas a
continuidade da política de “Guerra Fria barroca” foi um fator determinante na
derrota do 05 de novembro. Se a perda de patrimônio é mais relevante que a morte
do pai nos dizeres de Maquiavel, como não pensar que o eleitor comum americano
não atribuísse a ajuda financeira e militar à Ucrânia e ao apoio militar a
Israel como um fator de suas mazelas. As mulheres no mundo em guerra
desamparadas e os democratas negando o óbvio e muitos plantonistas do
noticiário, alinhados ao anacronismo da política externa barroca de Biden, se
silenciam nesse momento sobre uma vitória que não foi “apertada”. Os chamados “estados
pêndulos” penderam para a uma forte punição a esse caminho que não corresponde
com os preceitos da Frente Democrática.
Entretanto, a negação
da “Guerra Fria barroca” não significa uma trilha democrática, pois a literatura
do populismo, alimentada pela filosofia política de Carl Schmitt, encontrou nos
chamados “inimigos internos” uma nova Guerra para mobilizar o eleitorado que se
sente prisioneiro dentro de seu país. O Sonho Americano morreu num momento
muito delicado para os desafios da democracia. Entendemos que teremos um
prolongamento desse mal-estar político por décadas uma vez que o iliberalismo
ganha capacidade de interpelação da sociedade globalizada.
Mirem-se no exemplo das
mulheres afegãs na retirada das tropas americanas desamparadas. Nas viúvas dos
palestinos e que perdem seus filhos em Gaza. Na mãe da filhinha brasileira no
Líbano que está desesperada. Das mulheres ucranianas e russas que se despedem
de seus guerreiros eslavos. São aquelas mulheres que vive uma guerra e estão
silenciadas. Agredidas e nada lhe são apresentadas, pois venceu a ideia de
fechar a fronteira com o México num “Guerra Fake” as drogas.
Lamentamos, mais uma
vez, o silêncio das forças democráticas no Brasil sobre o livro O império da Dor e ainda não observamos
uma consequente ação sob o impacto das eleições municipais aqui. O nosso país
deve agora se readequar a nova realidade nas urnas daqui e de alhures, mas como
é difícil se afastar do sectarismo ideológico. Fique assim mais esse alerta de
analista da política.
Muito bom!
ResponderExcluirExcelente! Recomendo essa leitura!
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