terça-feira, 12 de março de 2024

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 035 - CHEGA SURPREENDER

O resto é engodo

Vagner Gomes de Souza

 

Quem vai ter um “papo reto” com a juventude? A quatro anos do anúncio da pandemia da COVID 19 pela OMS ainda muito temos que falar sobre o segmento da juventude que estaria na faixa de 16 a 34 anos. Nos primeiros momentos, tinha-se a ilusão que esse segmento estaria imune de níveis de letalidade. Apesar de muitos esforços em contrário, foi um segmento que pouco se apercebeu do que estava a ocorrer ao seu redor com as devidas exceções e aos casos de lutos familiares.

Uma parte desses jovens perderam momentos de convívio escolar num processo que impactou o desempenho escolar de muitos. Há um escandaloso “silêncio” sobre crianças e adolescentes que são analfabetos, ou seja, temos uma situação muito grave na educação. Não satisfeitos com isso, a implementação de uma reforma no ensino médio seguiu suas trilhas diante de alunos que estavam sem aulas no ensino fundamental. Escolhas ainda são feitas por jovens que consideram que copiar trechos de um artigo seria estar expressando opinião. Temos um exército de copiadores como nos antigos mosteiros da Idade Média.

Aliás, é essa a sensação que muitos educadores percebem ao vivenciar o dia a dia escolar. Aulas de Ciências reduzidas ou sem conexão com o ensino de humanidades nos faz testemunhar jovens que não validam a importância da vacinação. O negacionismo da ciência dos setores extremados é compactuado pelos defensores de uma austeridade educacional com ajustes na grade curricular. A vida está muito pior para os jovens e acham que os estudos de Projeto de Vida seriam a melhor saída. Provavelmente, para as editoras que já vendem livros com para essa inovadora disciplina. Na Ditadura Militar, período que um em cada 10000 jovens não saberá definir o que foi esse momento da história brasileira, tinha Moral e Cívica e OSPB como se fosse a solução para formatar a sociedade de crescimento econômico, mas de profunda concentração de renda.


A concentração da riqueza é a marca de nossa modernização. Crescemos ainda hoje para além das previsões, porém não é para todo esse mundo paradisíaco da prosperidade. Não teremos prosperidade diante de um quadro de “morte” do emprego como vemos emergir das seguidas revoluções industriais. Hoje estamos numa transição que causa esse incômodo social que explica em muito as figuras extravagantes que aparecem no cenário político com grande simpatia entre o eleitorado da juventude. Afinal, fazer uma política pública voltada para os jovens não é como se fosse fazer um “pé de meia”. O que virá depois?

Sabemos que a leitura está cada vez mais perdendo espaço na humanidade. No nosso país, até aqueles jovens que gostam e amam os livros veem suas vidas podadas por uma ausência de uma Política Cultural que abra espaços para a leitura. Ler e compartilhar livros com aqueles que não podem ler. Uma ideia simples, mas temos um arquipélago de Editais de Cultura formando “caixotes identitários”. Editais para aqueles que tenham condições de fazer prestação de contas, ou seja, um conhecimento acima do adequado ou que contrate especialistas. E os livros possivelmente a compartilhar não gera um cargo comissionado sequer.

Cobramos a distância da juventude da prática e valorização da democracia. Tememos que tenhamos um “ovo da serpente” a se chocar. Mas, o que as forças do campo democrático tem feito para fazer um “papo reto” com esse segmento? As chamadas juventudes partidárias faliram com os atores políticos pois servem para renovar quadros de assessorias parlamentares ou de alguns órgãos do executivo. Temos uma Secretaria Nacional da Juventude que se silencia diante da falência da educação. Talvez achem que os jovens apareçam pelo número de likes marcadas por “bolhas” de si. Sejamos francos. Não há um sorriso para nossa juventude.

Se me vierem com números da Conferência Nacional da Juventude, muito facilmente se pode dizer que no “socialismo real” os números maravilhosos eram sempre divulgados. E, em 1989, de que lado estava a juventude do Leste Europeu? Fez seu salto para a abertura do capitalismo e entramos nos estagnados anos 90. Os jovens foram se envelhecendo e se entregando a uma “guerra de narrativas” se afastando da sua própria realidade. Individualização cada vez mais marcante e os atores pretéritos da juventude com “Escola de Líderes” de gabinetes. Então, um choque de realidade se fez presente no século XXI. Esse século que ainda não trouxe um momento de bons ares para a humanidade. Do fundamentalismo islâmico a outros que vieram a se somar. A juventude mundial cada vez mais se deixou levar por uma teia da morte.

A Inteligência Artificial é uma realidade cada vez mais próxima e há um ano alguns jovens ainda riam quando qualquer educador lhe dissesse que ela viria para ficar em suas vagas de emprego. A precarização do trabalho ainda é uma fase de transição para o fim desse universo para muitos, porém ainda querem nos colocar num debate sobre o “decolonial”, o “biopoder” ou outros devaneios. Na verdade, o silêncio dessa juventude agudiza o tema da democracia ainda mais diante do envelhecimento da população.


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