A
Coruja da Harmonia Democrática
José Mauro (em
memória) – Mestre Sala e Professor
Vagner Gomes de
Souza
Os envelopes ainda não
se abriram para verificar se o GRES SERENO DE CAMPO GRANDE cumpriu seu objetivo
de seguir na Série ouro do Carnaval Carioca. Todavia, ela já pode se considerar
como a grande revelação do Carnaval de 2024 pela garra de seus componentes.
Apesar das falhas em
alguns quesitos, a Sereno de Campo Grande não se abateu diante das
circunstâncias e demonstrou que a diversidade de forças reunidas por um
objetivo é capaz de fazer uma diferença significativa na Marquês de Sapucaí.
Foi um desfile que afastou as “manchas polarizadas” que descaracterizaram a
cultura política de um bairro trabalhista nos anos 50/60 do século passado.
Nos 40 anos do
Sambódromo – que coincidem com as manifestações das Diretas Já – a Sereno
apresentou um desfile maduro e com um perfil semelhante a pluralidade das
forças envolvidas naquele momento histórico de isolamento das forças reacionárias
e alheias aos anseios populares.
Todos que viveram os
dias de 1984 sentiram reviver essa magia da unidade na grandeza do desfile da
Sereno de Campo Grande que elevou a alegria de um bairro de trabalhadores em
convívio com uma classe média que sempre dialogou com eventos culturais e
iniciativas populares. Se a ocupação da democracia se faz de forma gradual no
bairro, nada nos impede de “furar as bolhas” das derivas de identidade que
fraturam nossa percepção das instituições.
A Sereno de Campo
Grande compreendeu a grandeza do momento ao apresentar o enredo “4 de Dezembro”
que dialogou com a liberdade religiosa muito necessária diante das mudanças sociais
ascendentes no bairro e seus arredores. Nada que apresentasse as outras
escolhas como equivocadas, mas abrindo a perspectiva para que se compreenda a
riqueza do sincretismo religioso como parte integrante de uma sociedade aonde a
religiosidade não pode ser manipulada por intenções obtusas.
A sabedoria da coruja
se fez presente na encenação da passagem do filme “O Pagador de Promessas”
(1962) na abertura do desfile. Teatro, Cinema e Samba (além das novelas)
fizeram parte da cultura política de Dias Gomes que sutilmente esteve presente
na Marques de Sapucaí como se fosse um lembrete de que Campo Grande não pode
ser uma Sucupira com “Zecas Diabos” deformados.
O carnavalesco Thiago
Avis foi muito feliz em suas escolhas que puderam exibir muito da nossa riqueza
na construção de uma religiosidade popular. Seria o “Ulisses Guimarães” do
Carnaval carioca ao perceber os momentos necessários aos recuos em determinadas
escolhas. A harmonia da democracia veio pelas vias moleculares da agregação de
um movimento de solidariedade e desprendimento de muitos que nem se conheciam.
O retorno da Coruja
para a Marquês de Sapucaí é uma lição do quanto há uma potencialidade cultural
marcadamente democrática num bairro estigmatizado por uma intelectualidade que
confunde Zona Oeste carioca com a “territorialidade da periferia”. Há força
nordestina com miscigenação nesse bairro popular de Campo Grande. Não se podem
deixar as lentes dos devaneios acadêmicos criar barreiras ao desenvolvimento
sereno dessa Escola de Samba.
A superação do
anacronismo de algumas posturas se faz presente na leveza de muitas ações em
que amplos encontros se realizam. Foi feito história na agremiação independente
dos resultados e se abriu uma avenida de boas novas para a Zona Oeste carioca. Portanto,
há muito para se festejar com o desfile de ontem da Sereno de Campo Grande que
pode contagiar outros corações para o transcorrer do ano de 2024.
Excelente texto!
ResponderExcluirPerfeito!!! Estarmos lá, já nos faz vencedores!!!
ResponderExcluirJamais pode cair no esquecimento. Ameiiiii
ResponderExcluirÓtimo artigo!!!
ResponderExcluirTexto maravilhoso! Obrigada por compartilhar!
ResponderExcluirNossa! Que texto! Muito obrigada! Fiz parte da ala da Vegazô, uma ala com integrantes veganos e isso nos enche de orgulho. Como vc disse, Campo Grande furando a bolha.
ResponderExcluirTive muito orgulho de desfilar pela Sereno de Campo Grande, que pelo Segundo ano consecutivo contou com uma ala vegana e que despertou interesse de veganos e vegetarianos de vários pontos do Brasil. - Michael Meneses.
ResponderExcluirParabéns! Excelente texto!
ResponderExcluirParabéns pelo texto, Campo Grande é um universo de saberes e movimentos culturais, o samba, o carnaval e outras expressões afrodiaspóricas estão enraizadas e borbulhantes na Zona Oeste.
ExcluirSim, parabéns Vagner Gomes, muito bem colocada suas palavras e uma observação maravilhosa! É muita garra é muito empenho de renascer Campo grande, que tem tanto pra mostrar ainda.
ResponderExcluirAmei fazer parte da escola de samba de meu querido Bairro Campo Grande Parabéns sereno
ResponderExcluirFiz parte da ala de xango e acho que fizemos um belíssimo desfile ,a escola estava linda e agradeço muito o acolhimento da escola comigo .
ResponderExcluirEra o que meu marido dizia,porquê campo grande não tem uma escola,há que todos os bairros tem,isso ficou na mente dele,porque era um bloco de 100 homens vestidos de mulher com fantasias em azul e branco,ele era destaque,Em 12 de fevereiro dr 1996 ele colocou tudo em prática sentado no bar do Pepe, ele PAULO ROBERTO PORTUGAL PIMENTA ,MAIS CONHECIDO COMO PAULO GELEIA E OUTROS E ASSIM FOI FUNDADA A GRES SERENO DE CAMPO GRANDE E SEU SÍMBOLO E A CORUJA,QUE DIZER SABEDORIA.
ResponderExcluirViva a potência cultural de Campo Grande!!! Excelente contribuição Vagner Gomes. Querido José Mauro estará sempre presente.
ResponderExcluirMinha primeira vez desfilando e foi na escola do bairro em que nasci, com um enredo sobre o Orixá q é dona de meus caminhos e comemorando os 40 anos do nosso solo sagrado Sapucaí. Foi inesquecível. Muito obrigada Sereno!!!
ResponderExcluirParabéns, Thiago Azis. Belíssimo trabalho .
ResponderExcluirartigo ótimo, bom trabalho.
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