segunda-feira, 15 de maio de 2023

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 015 - NEM SÓ DE VOTOS VIVE A DEMOCRACIA


 

A Frente Democrática tem que continuar

Em memória de Rita Lee

Por Vagner Gomes de Souza

 

Há uma hipótese otimista que nossa preferência musical pelo samba em comparação com as movimentações do Tango nos afastou de muitas soluções finais na prática da política. O sambar no pé espanta a tristeza ou se é doente da cabeça ou doente do pé escreveu a sabedoria nacional popular. Assim o repertório do Show “Samba de Maria” em turnê feita pela cantora Maria Rita nos faz melhor refletir sobre os descaminhos dessa transição democrática de novo tipo ao qual se impôs na política brasileira. Em memória a Aldir Blanc e Elis Regina, a força de O Bêbado e a Equilibrista nos ensina que a política da Frente Democrática precisa continuar e até aprofundar.

Os valores da República e da Democracia foram atingidos em um mandato presidencial através da mobilização da sociedade brasileira pelas redes sociais, o que construiu uma hegemonia antissistema que acompanha uma onda política internacional. Olhai para os resultados políticos na Europa ou olhai para os políticos que emergem na América do Norte. Considerem os ventos de quaresma na América Central ou se previnam com as armadilhas que nos rondam na América do Sul. Vivemos tempos assustadores diante da autocracia feita pelas multidões de eleitores que votam em desqualificar e colocar sob ameaça a Democracia.

O uso de metodologias de avaliação da dinâmica do Congresso Nacional estariam defasadas ao se comparar com duas décadas atrás. Não temos mais os atores partidários em exercício pleno na política. O individualismo da sociedade nos faz perceber “Blocos” políticos que articulam interesses individuais de parlamentares. O “afunilamento” da cláusula de desempenho dos Partidos Políticos na redução das legendas tem reforçado os mandatos individuais de parlamentares encastelados no mundo digital.

 Não há debate programático diante de um mosaico em busca da lacração e dos “likes”. Não há uma educação da política democrática e muito mais se aprofunda esses problemas diante da baixa qualidade educacional da sociedade e de muita militância. A formação política é feita como se fosse um “reality show” de seguidos “paredões” eliminatórios de adversários, portanto sempre se tem a impressão de estar num ambiente polarizado. Todavia se alimenta uma dinâmica de “jogo político” aonde os analistas de conjuntura seriam aves raras a cair ao meio do grande “Coliseu da Política”.

Perdemos politicamente na vitória eleitoral apertada no segundo turno de 2022, porém não nos parece que se extraíram as consequências políticas dessa lição. E parece que ou se está em 2003 ou, pior, num 1968 de inovadores maoístas em busca de uma reeducação política da militância. Não falemos de conjuntura, mas alimentemos as narrativas e lugares de fala cercados por uma grande onda de forças políticas retrógradas. Aplaudir dentro de uma “bolha” que possa eleger parlamentares individualizados. Pois o importante não é formar militantes nos partidos de esquerda, mas engajar meus seguidores nas redes sociais. Ainda dizem que seriam de uma Esquerda essa postura fragmentada e muito apropriada para as feiras medievais. São os “Burgos” em forma de “coletivos” e a juventude se diz militante, mas com um olhar para o retrovisor.

Então, não se pode permitir que as diversidades dos atores políticos do Centro sejam cobradas como se fosse uma “máquina registradora” do supermercado da política. A refundação política do Centro político não se faz em uma sequência de dias ou através de Ministérios em busca de votos no Parlamento, mas por uma política de debate programático atuante nesse momento na proposta de PLDO e nos debates do PPA. Esse é o momento de outra vez compreender que nosso liberalismo político sempre esteve no seu lugar. Contudo, ainda nos sentimos num andar por um deserto a procura da Terra Prometida.

4 comentários:

  1. Ótima reflexão! Acho que estamos bem pior do que em 2003. O psdb não despertava a demência nas pessoas como o "bolsonarismo" desperta e alimenta.

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