LUSOFRENTISMO
Por Vagner Gomes
de Souza
No ano de 2015, a
geografia política lusa foi reinventada pela formação da “Geringonça” que seria
uma Frente Política opositora da política rígida de austeridade econômica da
política fiscal recomendada para a União Europeia para superar os efeitos da
crise econômica de 2008. O termo pejorativo veio de um líder da CDS-Partido
Popular, organização política de inspiração democrata cristã e
liberal-conservadora, mas ganhou gosto entre os novos partidos governistas.
A reinvenção se deveu
pelo fato de o Partido Socialista (PS) ter organizado um Governo de Maioria
mesmo com ficando em segundo lugar nos resultados de voto e número de assentos
em 2015 (32,3% e 86 parlamentares eleitos). Em sequência, se uniu ao Bloco de
Esquerda e a Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV) para referendar a derrota
política do “Portugal à Frente”, uma aliança entre PSD e CDS-PP. As legendas
aliancistas deram uma errônea impressão de que se estava a começar uma “Era de
Frente Popular”, ou seja, a “Geringonça” seria uma unidade da esquerda
portuguesa em polarização com a Direita.
Essa foi a origem dos erros políticos que
levaram a derrocada dos atores políticos à esquerda nas eleições legislativas
de ontem (30 de janeiro). Avaliavam que estavam num governo frentista para
forçar as correlações de forças políticas internas no sentido de levar o debate
programático orçamentário mais a esquerda no caso do CDU enquanto o Bloco de
Esquerda começou a introduzir uma pauta mais “americanizada” na política das
forças progressistas. Não perceberam que estava no interior de uma coligação de
Centro-Esquerda que fez Portugal atingir um pleno emprego e ter uma elogiada
política de vacinação da população no combate a pandemia.
Todavia, os indicadores
positivos na geração de empregos não foram acompanhados pela redução das
desigualdades sociais. CDU e Bloco de Esquerda mais uma vez calculavam que
esses números forçariam que mais a esquerda o eleitor se posicionaria nas
eleições legislativas. Nesse cálculo político se descartou o “eleitor
silencioso”, ou seja, a parcela do eleitorado que começou a não votar desde
2005.
Nesse ano, 64,26% dos
portugueses compareceram para votar e os números foram declinando em cada
eleições até essa mais recente (2009 – 59,74%; 2011 – 58,07%; 2015 – 55,86%;
2019 – 48,57%; 2022 – 57,96%). Sugerimos que os eleitores “centristas
tradicionais” foram aderindo a abstenção o que permitiu a “solução Geringonça”.
Agora, esse segmento silencioso, como se fosse uma “revolução passiva” lusa
teria comparecido as urnas para sufragar o PS.
O “eleitor silencioso”
gravitou na busca da volta de Governos de Maioria como primado da moderação da
política portuguesa. A “solução Geringonça” descartou o peso desse “centro
político” que derrotou política e eleitoralmente Bloco de Esquerda e CDU que
continuam com a “ilusão” de foram derrotados pelo “voto útil”, ou seja,
eleitores deles teriam “migrado” para o partido de Antonio Costa. O ensaio
político dessa “cegueira” não se permite a considerar que aproximadamente 350
mil eleitores agora teriam aderido a abstenção? Um erro primário em considerar
que o eleitor da Esquerda não faz abstenção impede novas possibilidades
analíticas.
Por outro lado, uma “Geringonça”
de Direita (unindo PSD, CHEGA e Iniciativa Liberal) foi, por ora, adiada com a
maioria absoluta conquistada pelo PS. Essa maioria eleitoral teria uma base
mais “frentista” que “socialista” e/ou “social-democrata” uma vez que seria um
voto de confiança pela continuidade de mudanças graduais e com estabilidade.
Nas democracias do Mediterrâneo, o eleitor português deve temer as incertezas
das eleições legislativas semelhantes à Espanha, Itália e Grécia. Portanto, o “Lusofrentismo”
é uma noção conceitual ao qual propomos.
Excelente sua análise sobre a importância do voto cidadão, aquele depositado na urnas pelos que não se omitem, porém lutam por mudanças de forma democrática, através desse valioso instrumento da cidadania: o voto. Ótimo convite à reflexão! Ei, esquerda, avante!
ResponderExcluirExcelente. Me fez entender, aqui do Brasil, um pouco da política portuguesa. Mas espero que os "silenciosos" não migrem para extrema direita. Se o radicalismo de direita "chega" ao poder, causará perdas irreparáveis no país, na democracia e até nos que se dizem "liberais".
ResponderExcluirBoa tarde! Precisamos dos eleitores que não fazem escolhas, preferem anular ou deixar em branco, precisamos dialogar para os eleitores enganados pela extrema direita que o Brasil tem solução, não merecemos o governo atual de Bolsonaro que insiste em dizer que não há corrupção em seu governo, precisamos dos evangélicos, eleitores, pois os líderes religiosos manipulam seus adeptos dentro das igrejas com doutrinas anti bíblicas, praticando adoração ao Presidente da República... Todos fazendo indicações para as próximas eleições votos á Jair Bolsonaro...
ResponderExcluirA exemplo de Portugal, precisamos estar atentos à tudo que ocorre no país e na política do país com interesse coletivo, democrático, justo para todos ( políticas com programas assistencialista e inclusivas á todos...
Ótimo artigo!!
Boa reflexão á todos ❤🙏
Uma observação importante na sua analise:
ResponderExcluirO aumento da participação política, demonstrando que a cultura política gera compromissos com a cidadania, bem como respostas para o radicalismo!
Parabéns!