Breves
lembranças de “Brave”
Por
Micaela Luz
Rover
Curiosity, uma das missões mais bem-sucedidas da NASA. Gagnam Style, do
sul-coreano Psy. Corinthians bicampeão. O fim do mundo, previsto por 27 povos
antigos diferentes, que não aconteceu. O lançamento do filme que uniu os
principais heróis da Marvel em tela. O fim da trilogia de Nolan, com Batman – O
Cavaleiro das Trevas Ressurge.
A
princípio a ligação entre esses acontecimentos parece não existir, mas há sim
uma característica que os une. Todos esses episódios marcaram o ano de 2012 e,
agora em 2022, irão completar 10 anos.
Valente
(“Brave”) possui essa mesma característica em comum. Lançado a quase 10 anos
atrás, o filme conta a história de uma princesa que decide lutar pela sua
liberdade e ir contra as tradições impostas a ela. Mesmo que para isso tenha
que ir contra sua mãe, uma mulher estritamente rígida em relação às leis e aos
costumes.
Merida,
a protagonista do filme, queixa-se das expectativas, responsabilidades e
deveres que a ela foram impostos pelo fato de ser uma princesa, princesa essa
que precisa, acima de tudo, ser perfeita. Logo é possível ver quem é o
originador de tais imposições, a mãe de Merida, Elinor. A rainha, a todo o
momento, restringe a filha, colocando tradições como leis imutáveis e, de certa
forma, retraindo o espírito livre que a filha possui.
Ao
contrário das princesas mais tradicionais, Merida não se apaixona por um
príncipe, ou espera por resgate, ela, na verdade, busca moldar seu próprio
destino. O destino, aliás, é uma parte muito presente no filme, ele começa
sendo entendido como algo imutável e predestinado e, no final, passa a ser
entendido como um fruto das escolhas, como algo moldável as vontades e
circunstâncias.
Merida
é uma adolescente tentando se descobrir e sendo limitada pela visão que o mundo
tem de uma princesa. Ela faz besteira, assim como todo adolescente, e depois se
desdobra para tentar consertar, gerando assim um aprendizado e uma mudança, não
só nela, mas também em sua mãe, mostrando como a experiência é sim algo
formador de novas opiniões e visões. E, trazendo a questão da experiência, é
possível trazer esse ensinamento para o mundo real, para fora da animação. A
rigidez com a qual defendemos nossas visões de mundo é o que permite que loucos
antivacinas e terraplanistas existam, pessoas que não se permitem experimentar
um mundo fora de suas convicções.
No
decorrer do filme é possível ver a personalidade de ambas, mãe e filha, por
meio de traços físicos, tais quais roupas, postura e cabelo. A filha, com um
espírito livre e aventureiro, possui roupas mais largas, cabelos soltos e uma
postura confiante. A mãe, por sua vez, com sua personalidade rígida, possui
roupas perfeitamente alinhadas, cabelos lisos e uma postura ereta, digna de uma
rainha. O peso de uma tradição não pode nos aprisionar e nem as castas
políticas, midiáticas, pastorais, jurídicas, dentre outras, carregarem consigo
o monopólio da hereditariedade, como vemos políticos de gerações dominando o
Estado com ações assistencialistas ou com uma “valentia” baseada na coerção
como no caso de milícias. Nessa toada, o Rio de Janeiro nos oferece um triste
cenário rico, seja o caso selvagem que nos assombrou com a morte do menino
Henry Borel, seja com os “zeros” que assolaram a política fluminense.
No
caso da animação, cabe destacar que foi a primeira a ter recebido um Oscar para
uma mulher, a sua co-diretora, e que a produtora Pixar antecipou a conservadora
Disney em um ano que foi forçada a pensar em uma dialética sem síntese com o
lançamento de Frozen (cujo enfoque sobre o papel da princesa foi cobrado na
UERJ em contraposição à Branca de Neve). O interessante das recentes histórias
de princesas é que se não há a busca por príncipes abre-se a possibilidade pelo
fim de monarquias e a criação de repúblicas democráticas inclusivas para todas
e todos.
Exelente reflexão jovem!!!!
ResponderExcluirMuito interessante o texto que aponta sabiamente o trânsito épocal em que nos encontramos, embora também prudente em não arriscar apontar para qual destino. O triste episódio que envolve a morte de uma criança está lá assim como o germe da discussão complexa que envolve a nossa representação rustica e atrasada da cultura do familismo, ainda imperante entre nós, e em tanto outros rincões. Que nos venha a Spencer da Micaela Luz.
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