quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

TEXTOS DA JUVENTUDE - O NOVO LIVRO DE CHICO BUARQUE


 

As Caravanas em Anos de Chumbo e outros contos.

Por Julia Neves

 

 Para iniciar, é necessário falar do começo: o título. A escolha deste foi interessante, pois é sugerido que os contos irão retratar, ou ao menos se passar, no período da Ditadura Militar brasileira, o que não é o caso. A obra trás consigo uma leveza e humor, apesar de tratar como assuntos sérios, como a invisibilidade social, preconceito de classe, racismo e a questão das milícias, muito presente até atualmente na Cidade do Rio de Janeiro, onde a maioria dos contos se passa.

 O primeiro conto, intitulado “Meu tio”, trata de uma família disfuncional, na qual a filha está envolvida em um caso de incesto e prostituição pelos próprios pais. O segundo conto, “O passaporte”, é tão atual por mostrar uma política do cancelamento e o tão debatido “hate” a uma pessoa famosa em uma época em que esse termo nem existia. No terceiro conto chamado “Os primos de campo”, outra família disfuncional é retratada, dessa vez à mercê da polícia, milícia e do racismo. Além de debater o abandono paternal. O próximo conto, “Cida”, fala sobre uma moradora de rua e trás a pauta da diferença e preconceito de classes, além da invisibilidade social. O quinto conto é sobre um dos bairros mais famosos do mundo e o cartão postal do Brasil: Copacabana, aonde histórias, ou devaneios, vem à tona na qual o icônico bairro carioca é o personagem principal. O conto “Para Clarisse, com candura”, trás o debate de até que ponto a idolatria de um jovem por um ídolo pode chegar, assunto também que se mostra muito atual, em uma época em que pessoas fazem loucuras e coisas inimagináveis para conhecer alguém endeusado. O penúltimo conto intitulado “O sítio” fala sobre as férias de um casal que recebem ajuda de um caseiro e visitas esporádicas de urubus. Já o último conto, “Anos de Chumbo”, passa-se no período da Ditadura Militar e mostra como um menino resolveu a questão da convivência com seus pais.

  Todos os personagens principais, apesar de não terem nome, possuem características marcantes: o sarcasmo, a ignorância, as angústias, os problemas mentais e éticos de cada um. São essas características, não descritas por Chico Buarque, mas percebidas através das atitudes de cada personagem, que nos permite ver que eles são nada mais e nada menos que humanos. O livro retrata isso: a essência humana. Ninguém é 100% bom ou 100% mal e os contos mostram isso.

 As histórias contadas no livro são engenhosas, com reviravoltas surpreendentes, que diz muito não somente a época em que os contos foram escritos, mas sobre o Brasil atual. As histórias se encaixam tão perfeitamente no momento em que vivemos que poderiam ser facilmente escritas a 2,3 anos atrás.

 Afinal, será que a realidade brasileira atual não pode ser entendida também como os “Anos de Chumbo” do século XXI?  Esse momento de silêncio das autoridades sobre a continuidade da Pandemia no mundo pode ser uma indicador para essa resposta.

2 comentários:

  1. Muito bacana. Me recordou um texto que publiquei no Jornal do Brasil sobre o álbum vitorioso do Grammy Latino em 2018. Parabéns e que venham outros textos.

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  2. Bom texto para incentivar a leitura e compreensão do que nos cerca e nos desafia. Evoé, jovens à vista, como na música Paratodos.

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