domingo, 26 de setembro de 2021

BOLETIM ROMA CONECTION/NÚMERO 6 - DEBATE SOBRE A EDUCAÇÃO NA "IDADE DA PEDRA"


 Por um ensino republicano e democrático

 

Pacelli H. S. Lopes

 

Uma educação pela pedra: por lições;

para aprender da pedra, frequentá-la;

captar sua voz inenfática, impessoal

(pela de dicção ela começa as aulas).

A lição de moral, sua resistência fria

ao que flui e a fluir, a ser maleada;

a de poética, sua carnadura concreta;

a de economia, seu adensar-se compacta:

lições da pedra (de fora para dentro,

cartilha muda), para quem soletrá-la.

 

In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p.338. (Biblioteca luso-brasileira). Série brasileira.

 

Como as escolas podem operar frente aos desencantos democráticos e republicanos? Não é nenhuma novidade, que desde meados da segunda metade do século XX vemos nossas democracias e repúblicas entrarem em ruínas, essas não conseguiram cumprir tudo que prometeram no pós-guerra.

A pandemia sepultou a educação como a conhecíamos, deixando um vazio entre o que deve vir a ser uma nova forma de construção de conhecimento. Como disse Gramsci, “a crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem.”



A princípio precisamos nos perguntar: por que morreu? Como morreu? E de que forma morreu? Entendendo melhor o óbito, quem sabe não poderemos construir uma nova organização do que fazer para um renascer da aprendizagem. Frente a isso, como educador e educadoras, como gestores e gestoras escolares, devemos usar as microescalas de observação e análise da nossa prática diária sobre o dia a dia das escolas, pois acreditamos que nos pequenos detalhes das poucas coerências e das muitas incoerências poderemos encontrar valiosas pistas para as mudanças.

Construímos nas nossas práticas diárias a busca por uma educação na e para a democracia e a república. Com isso, buscamos nos provocar: quando e quais das nossas ações diárias no chão da escola contribuem para a civilidade democrática e republicana? Quando falamos em frentes amplas e democráticas para o futuro da política entre nós será que fazemos isso no dia a dia das escolas? Será que nos revoltamos de tamanha maneira contra os descalabros dos governos da mesma maneira quando os colegiados escolares são engolidos pelas sanhas autoritárias dos diretores e diretoras? Será que ficamos indignados com a ausência de dispositivos democráticos como grêmios estudantis e assembleias de alunas e alunos em nossas escolas? Será que conhecemos e lutamos pela implantação e aprimoramento permanente dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas?

De forma científica e ética, buscarmos operar na realidade com o objetivo e valores claramente democráticos. Não tenhamos a pretensão de dizer que já temos condições de parir o novo, porém, lutemos para construir nas nossas práxis uma escola de bases republicanas.



Para isso, buscamos dialogar com todos os setores da comunidade em busca dos seus valores, filosofias e sonhos para se construir um Projeto Político Pedagógico exequível e real. Depois fortalecemos e possibilitemos a autonomia aos grêmios estudantis e aos colegiados escolares. Criarmos redes com setores políticos, sociais e econômicos dialogando com diferentes correntes políticas que permitam trazer o melhor para a escola.

Dentre tudo que fazemos algo parece ser a pedra angular para a construção de uma cultura democrática e republicana: a percepção palpável de que sozinhos nada podemos fazer, nem mudar a nós mesmo. É necessário irmos aos diálogos para com todos e todas aquelas que queiram ensinar e aprender. E nós todos, o que fazemos na prática cotidiana que possibilita reforçar a república e a democracia?




5 comentários:

  1. Professor Paceli, a crise está em que precisando parir o novo, se ainda não está pronto, sofremos estados de parto... a de nascer!!!

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  2. Parabéns pela iniciativa, belo trabalho. É um momento de muita reflexão, e um resnascer, reconstruir

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  3. Parabéns, muito compactante e uma bela reflexão, juntos podemos mais...

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  4. Obrigada por partilhar suas reflexões!

    "Que pensar de uma educação que admite o escândalo de um povo marginalizado e imerso na passividade?"

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