Desconstrução
do Eu
Por João Sem
Regras
Eu falo para vocês que
não muito fácil aceitar que não estava mais no meio da realidade. Na verdade,
nunca estive presente na vida real e nos seus debates de forma concreta. Fui
alimentando meu ego na medida em que se foi passando o tempo. Tentei seguir a carreira
militar, pois tinha me inspirado num Ministro do meu país. Ele ficou um bom
tempo respondendo pela Saúde sem nada compreender sobre esse tema. Achei que eu
poderia desempenhar essa ou outra bela função de Estado com essa característica
de evasivas constantes.
A sociedade adoeceu
antes mesmo que eu pudesse perceber de meu desencarnar. De meu desconstruir.
Todavia, não fui aprovado na avaliação médica ao Colégio Militar, pois tinham
descoberto que eu era daltônico. Para mim o mundo era todo vermelho e só as
cores verde e amarela de nossa bandeira que eu conseguia distinguir. O
diagnóstico foi uma frustação em meus desejos em nada continuar fazer algo pelo
meu país. Meus sonhos frustrados foram alimentando mais e mais outras
iniciativas empreendedoras. Na fase da rebeldia juvenil fui um forte debatedor
nas redes sociais. Tudo deveria ser destruído nesse sistema podre mesmo que
tivéssemos que escolher um carro que se descarrilhe em direção ao abismo.
Não sei muito bem mais
se era opinião, porém dizia ser minha liberdade. Ser livre era pensar só em mim
e no desejo de estar aninhado em alguma função no qual eu seria o menos
capacitado a exercer. Para isso, era simplesmente necessário se aproveitar
do profundo desprezo dos concidadãos
pela leitura e aprofundamento do conhecimento. Nada como as teorias simples
para se fixarem nas mentes das pessoas.
Falar em liberdade como se fosse se defender de minha incompetência em
ter argumentos. Só dizer que a liberdade estava sendo ameaçada porque outros
queriam ter a chance em sobreviver.
Fui muito bem acolhido
por uma legião de ressentidos. “Esse é o meu país.” “Todos são canalhas!” “Aqui
é mundo dos espertos.” Eram frases que repetia em meus comentários políticos
para, aos poucos, naturalizar todas as escolhas políticas que eu fui assumindo.
Meu narcisismo alimentava um ódio na política e pela política. Nada de
democracia, mas sempre era bom citar sobre as instituições que estariam
vendidas ao sistema. Tudo sob controle das “forças ocultas”. Não é novidade na
história de meu país o uso dessa retórica. Não assumi nenhuma função no
“Gabinete do Ódio”, pois esse sentimento já estava naturalizado em mim pelos
inúmeros reveses em minha vida que depois percebi que foram frutos por não me
dedicar a estudar.
Eu tinha um profundo
ódio quando alguém citava Machado de Assis que deveria ter sido bruxo em vida.
Como entender um país que tivesse um escritor como referência de uma época
distante. Novas tecnologias. Escrever num Twitter era minha poesia. E teve um
momento de meu desempenho na assessoria em que sugeri para um Senador a fazer
uma emenda com inúmeras palavras sem uso da vírgula simplesmente para
dificultar a possibilidade do chamado veto parcial. Essa postura me valeria uma
cadeira na Academia Brasileira dos Canastrões. Então, foi muito difícil
perceber que a compaixão estaria desconstruindo meu mundo. E fui aos poucos me
dedicando a reações mais nervosas e mais destemperadas. Até que sucumbi no chão
em plena via pública.
Excelente texto, com uma ótima oportunidade de reflexão. parabéns
ResponderExcluirGostei demais, parabéns. #ForaBolsonaro
ResponderExcluirQue texto completo , simplesmente perfeito . Meus parabéns .
ResponderExcluir#Forabolsonaro