Educar para a
Democracia
Vagner Gomes de
Souza
O julgamento do habeas
corpus do ex-presidente Lula pelo Supremo Tribunal Federal (STF) foi mais um
momento da política brasileira em que a polarização se fez presente ao ponto
das “fumaças do passado” começar a circular os quartéis. O resultado não está fundando
um caminho para a pacificação na sociedade brasileira. Ao contrário, a “ética
da convicção” estaria suplantando a “ética da responsabilidade” como nos ensina
o clássico Max Weber. Assim, percebemos o quanto a nossa democracia está
carente de uma ampla frente de defesa para que a velocidade dos fatos não acabe
por jogar o país num ciclo de ampliação das restrições de direitos.
A Constituição é o
farol da democracia. Esse é o teor da coluna de Tereza Cruvinel (“STF menor,
crise maior” no Jornal do Brasil de 05 de abril) que muito desejamos ressaltar
o voto do ministro Celso de Mello. Ele realmente fez uma aula magna sobre os
valores da liberdade consagrados na Constituição, o que nos permitiria a pensar
no papel da educação para fazer o cidadão melhor conhecer seus direitos. Muitos
brasileiros são leigos no conhecimento de nossos direitos e imaginem no
reconhecimento dos princípios fundamentais de nossa nação.
Ulisses Guimarães e Lula
O que dizem um
determinado segmento da sociedade quanto a defesa da dignidade da pessoa humana
(art.1º, III da C.F.)? Quais longas polêmicas daria ter como objetivo
“erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais” (art. 3º, III da C.F.)? O que diriam os pré-candidatos a Presidência
da República sobre a “prevalência dos direitos humanos” (art. 4º, II da C.F.)?
Esses são alguns exemplos do quanto nossa Constituição precisa ser mais
reconhecida pelo povo. Afinal, como exercer o seu poder desconhecendo os termos
da Carta Magna?
A democracia é
complexa. Por isso, o atalho da polarização atrai a muitos que desconhecem
princípios consagrados na nossa Lei Maior. Todo campo democrático deve levar os
termos da nossa Constituição para o debate no dia a dia. A pacificação de nosso
momento político passa pela conquista de mentes e corações para as palavras que
foram promulgadas há quase 30 anos. A sociedade se educa para a democracia além
das eleições. A democracia se fortalece com a solução de problemas no cotidiano
e se engrandece com o reconhecimento das posições contrárias na busca de pontos
em comum.
Promulgação da Constituição de 1988
As escolas devem ser
motivadas a fazer da Constituição como um texto a ser trabalhado em seus
projetos pedagógicos. O reconhecimento das contribuições dos povos africanos e
indígenas se fez na educação através de uma lei. Talvez seja o momento de criarmos
mecanismos legais que permitam aos alunos um melhor acesso a “Carta Cidadã”. Em
resposta aos céticos que argumentam que há passagens com palavras difíceis de
compreensão, argumentemos que os livros didáticos distribuídos nas redes
públicas de ensino publicam o Hino Nacional com palavras do século XIX.
Faz parte da educação
enfrentar os desafios do conhecimento em benefício do aprofundamento dos
valores democráticos. A massificação do “Título I – Dos Princípios Fundamentais”
já seria um primeiro passo no sentido de educar para a democracia. Nesse
trajeto, todos poderão melhor compreender ao que Ulysses Guimarães pretendia no
seu discurso de promulgação da Constituição ao afirmar: “Eu tenho ódio e nojo à
ditadura”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário