quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Zona Oeste Carioca: Depois de Junho

  Agência Bancária Pichada no Natal de Campo Grande (RJ)
A Pichação Natalina da Zona Oeste carioca
Por Vagner Gomes de Souza
Há um novo ativismo político que se manifesta no mundo globalizado com fortes exemplos no levante popular das ruas de junho. Esse novo ativismo é fragmentado e individualizado. Suas bandeiras políticas ainda não se “afunilaram” uma vez que não se formou numa coletividade de ideias políticas. Na horizontalidade tudo se expõe para mostrar uma profunda indignação contra um discurso colorido de felicidades. Ainda mais em tempos de Natal, que representa um momento de estímulo ao consumo, diante de tantas injustiças. A orientação crítica aos desvios do capitalismo financeiro em pleno Natal não vem apenas da esquerda uma vez que o Papa Francisco lembrou a importância dos fiéis a Igreja a condenar o egoísmo.
A crise do capitalismo mundial em 2008 expôs um “mosaico” de indignados pelo mundo enquanto os grandes bancos eram refinanciados pelo Estado. O Ocupe Wall Street começou em setembro de 2011 para lembrar que aqueles que estavam à margem dos grandes bancos representavam 99% da sociedade. Uma onda que se espalhou pelas redes sociais nos últimos meses de 2011 antes que começasse um refluxo, mas sugerimos que os Democratas reocuparam a Prefeitura de New York City esse ano graças a esse processo de indignação.
 
No Brasil, a sequência de quedas de juros dos bancos foi interrompida pelos dilemas de uma ameaça inflacionária. As incertezas da economia no início de 2013 podem ter fomentado o “despertar das redes” ao tema de questionar tudo que aí está. A “Guerra do Tomate” (as diversas brincadeiras na Rede Social expondo o preço absurdo que o KG do Tomate tinha chegado) foi um elemento psicológico para dizer: “Não está mil maravilhas como propagandeia o Governo.” E o mesmo poderia dizer para a situação da Zona Oeste carioca diante dos eventos esportivos mundiais que se aproximam – Copa do Mundo e Olimpíadas. A AP. 5 (Deodoro – Santa Cruz) seria a fornecedora de mão de obra barata para a AP. 4 (Jacarepaguá – Recreio – Barra da Tijuca) onde se concentrará a maior parte das modalidades olímpica. A Zona Oeste carioca emerge na economia como um ser com duas cabeças onde o capital imobiliário devora tudo e a todos em qualquer espaço.
Consequentemente, o amanhecer do dia 25 de dezembro de 2013 ganha simbolismo para essa e outras reflexões quando uma pichação no Banco Itaú desejava: FELIZ NATAL!  Em seguida provocava: LIMPEM COM OS JUROS. Essa pichação no Bairro de Campo Grande não tinha assinatura de nenhum grupo político, o que demonstra a hipermodernidade do novo ativismo político, ou seja, a ação de denúncia não é feita para promover nenhum agrupamento político mesmo que possa haver. Não é a primeira ação contrária as agências bancárias no bairro, uma vez que nas jornadas de junho algumas agências do Banco SANTANDER foram depredadas. Recentemente, uma agência do Banco HSBC foi pichada com a sigla A.C.A.B. mas sem nenhum dizer uma vez que ela representa as iniciais da frase “Todos os Políciais são Bastardos” em inglês (“All Cops Are Bastards”). Uma sigla com outros significados como poderemos verificar pelas Redes Sociais, porém não implica numa organicidade anarquista apesar de alguns lugares do bairro a sigla estar acompanhada do símbolo do anarquismo.
 
Neste sentido, há novos ventos de um neoativismo político na Zona Oeste carioca estimulada pelas redes sociais. Não vislumbramos uma organicidade e sustentabilidade em padrões verticais ou na manutenção de uma bandeira política que construa consensos a partir da pressão da sociedade. A tendência a manifestação individualizada tenderia ao isolamento diante da persistência de um “mundo da política” arcaica. Por exemplo, nas vésperas do Natal uma Deputada Estadual, com base política na região e vestida de Mamãe Noel, circulava pela periferia de Campo Grande distribuindo brinquedos para crianças e promessas para os adultos reeditando o falecido Deputado Estadual Albano Reis que tinha como apelido “Papai Noel de Quintino”. A vida política está muito velha ainda mais na Zona Oeste carioca. E a hipermodernidade na periferia não está agrupando esses sentimentos críticos que desejam uma nova política. Nesse ponto, percebemos uma transição que se manifestará nas eleições do próximo ano na região diante da tendência ao aumento da abstenção eleitoral/votos brancos e nulos o “voto” vai se transformar num produto/mercado de grande valor, ou seja, campanhas eleitorais mais despolitizadas e caras na região. A saída seria reagrupar uma alternativa com todos os democratas da região debatendo ideias. Contudo, todos anseiam participar desde que não sejam eles a participar.

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