Os Democratas da
Esquerda: O Programa (Começo de um debate)
Por Vagner Gomes de
Souza
As jornadas nas
ruas iniciadas em junho demonstraram que os partidos políticos do campo
democrático e da esquerda se distanciaram do debate das mudanças a partir de um
programa. Muitos segmentos e lideranças se deixaram contaminar pelo “cálculo
eleitoral” minimizando sua plataforma política. Exemplo extremo está nas
agremiações partidárias que levantam o tema da “decência na política” como
sinalizador de sua adesão política. As massas nas ruas não tinham programa e nem
uma liderança. Uma eclosão da “revolução dos interesses” de segmentos das
periferias urbanas e da prática política.
A “agenda eleitoral”
antecipada em fevereiro pelo antecessor da Presidente da República foi “congelada”
naquele momento. A sociedade civil inorganicamente comparece as manifestações e
programaticamente não se reformulou. Os segmentos políticos foram
equivocadamente nomeados como “fascistas”, “anarco-punks”, “anarquistas”, “extremistas,
etc. Nos seus desdobramentos de um Congresso Nacional formado ainda sob os
métodos do clientelismo. Nesse ponto, o “interesse” do voto do eleitor se faz
prevalecer e tudo se desmancha no ar.
As lições da
política partidária devem ser aprendidas diante das idas e vindas da REDE de
Sustentabilidade. Mobilizar um “mosaico” de intenções de “boa vontade” da
sociedade não se faz na realidade. E, gradualmente, os elementos do nosso
liberalismo doutrinário se faz representar até nas forças políticas que
deveriam defender o socialismo. A política ainda está anos-luz afastados da
sociedade e um “caldeirão” de problemas se faz por aguardar soluções. Por
exemplo, a massas de trabalhadores continuam o cotidiano da Avenida Brasil
engarrafada e dos trens da SUPERVIA lotados/danificados, mas a pauta imposta
pela mídia, uma vez que não há vozes da esquerda, é a Perimetral.
Não há um Programa
dos Democratas da Esquerda, seja qual forem as agremiações que ocupem esse
segmento, para a sociedade brasileira. Na passagem dos 25 anos da Constituição
de 1988, percebemos o quanto seus valores democráticos ainda não foram todos
regulamentados. A recente Greve dos Servidores Públicos da Educação no Rio de
Janeiro demonstra o quanto o legislativo ficou uma geração sem “tomar partido”
sobre a regulamentação do Direito de Greve aos Servidores Públicos. Haja “bandeiras”
progressistas a se levantar no Parlamento que aprofundem as conquistas da Carta
Democrática de 1988, porém, mais uma vez, os “cálculos” estão na Sucessão
Presidencial.
O tema da violência
policial nos grandes centros urbanos levanta o debate sobre a desmilitarização
da Segurança Pública no país, porém teme-se pelo seu arquivamento diante de um
Congresso Nacional sem pressão do debate da sociedade através de uma campanha
de opinião. As eleições legislativas são fundamentais para a emergência de um “polo”
de Democratas da Esquerda que se encontram espalhados em diversos segmentos
partidários e da sociedade. Acumular forças no legislativo para gradualmente
pressionar uma Reforma Política que acabe com o “voto escravizado”, ou seja, o
voto a serviço do “balcão de negócios”.
A disposição
política para levantar esse debate deve partir da sociedade articulando uma
ponte com os partidos políticos da esquerda até o centro-liberal. Apresentar um
programa se faz necessário. Esse é o ponto relevante para além de indicar nomes
para a sucessão presidencial que só empolgará ao eleitor no mês de setembro de
2014. Agora, é momento de fazer circular ideias e perguntar: que Brasil terá
com o envelhecimento gradual da população? Como será a Previdência Social na
próxima década? A saúde pública vai conviver com as terceirizações? Por que o
Plano Decenal de Educação não avança no Parlamento? Quais seriam as conquistas
aos trabalhadores? Vamos continuar com o mesmo modelo de sindicalismo
unicitário? Quem mais lucra não deveria pagar mais? Enfim, há inúmeras
perguntas que ajudariam a formular um programa dos Democratas da Esquerda que
mobilizaria as redes sociais e a militância na sociedade para definir o “voto
útil” em lideranças políticas fundamentais a continuarem ou para ingressarem no
Congresso Nacional. Uma Lista de um “movimento multipartidário” com diálogo na
sociedade. Os partidos políticos da esquerda não devem temer que “não filiados”
votem e participem de seus encontros/plenárias de formação de programa. Uma
oportunidade de formar novas lideranças na formação de uma cultura cívica. Esse
é o começo de um debate programático que devemos ajudar a alimentar nos nossos
locais de trabalho, militância, estudo, moradia, exercício de nossa fé
religiosa, etc.
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