domingo, 13 de janeiro de 2013

NO - CRÍTICA AO FILME



Sem Medo de ser Alegre
Por Vagner Gomes de Souza
“Não deve ser, portanto, crédulo o príncipe, nem precipitado, e não deve amedrontar-se a si próprio, e proceder equilibradamente, com prudência e humanidade, de modo que a confiança demasiada não o torne incauto e a desconfiança excessiva não o faça intolerável.”
Nicolau Maquiavel, O Príncipe.
O que o Chile teria a ensinar ao Brasil? O que o Brasil ensinou ao Chile em termos de transição política? Essas seriam duas perguntas que devem encantar aos especialistas acadêmicos brasileiros ao estudar a história chilena. O filme “No”, de Pablo Larraín, demonstra a força de um individualismo em processo de longa duração. A luta pela democracia em momento de americanização perversa.
Se a “revolução dos interesses” emergiu no interior da Ditadura Militar brasileira ao ponto de testemunharmos ao nascimento de um partido político após as greves do ABC, a campanha do Plebiscito de 1988 no Chile teria captado essa “revolução dos interesses” que estaria silenciada na sociedade por uma anacrônica polarização política diante de uma economia vencedora. Fugir da polarização política seria uma forma de captar os ganhos individuais de uma “nova economia”. O filme “No” instiga a pensar numa manifestação política antiditadura Pinochet próxima ao paradigma do individualismo metodológico proposto por John Elster.
No Brasil, o “sindicalismo de resultados” é anterior a publicidade política de um Duda Mendonça. Numa chave oposta, a “transição política de resultados” seria um processo posterior ao “marqueteiro” René Saavedra. Elementos de psicologia social em cenários políticos estariam presentes naqueles anos. A democratização chilena seria uma conquista para o indivíduo viver alegre no futuro.




“No” é um filme instigante nesse sentido. Os velhos atores políticos da oposição chilena estão expostos ao anacronismo de sua mensagem para a sociedade (qualquer semelhança com outras oposições políticas seria mera coincidência?). Particularmente inicialmente há uma rejeição das mulheres e da juventude ao Plebiscito e/ou campanha do No. Justamente os segmentos mais “abertos” as novidades e modas do mercado e tecnologia. Então, a linguagem da publicidade refunda essa oposição onde a “ética da convicção” foi cedendo espaço para a “ética da responsabilidade”.
Seria puro oportunismo? Seria René mais um ex-exilado político que se virou mercenário? Afinal, por que fazer uma campanha sem o objetivo de ganhar? Essas perguntas surgem em nossas mentes enquanto assistimos ao filme e compartilhamos da luta individual do protagonista em reconquistar o Amor da mãe de seu filho. Uma trama secundária que demonstra que o sucesso publicitário não lhe conferiu ganho na intimidade diante da cultura política ao qual sua ex-mulher era filiada.
As peças publicitárias da campanha do No são originais e foram inseridas na narrativa do filme sem que percebamos. Uma técnica cinematográfica que gradualmente dialoga com as convicções do público: qual seria o mal menor? A cópia da cópia da cópia da cópia da cópia....A sociedade já estaria pasteurizada e cada vez mais individualizada na condição de consumidor. Assim, os atores políticos foram transformados em cores de “arco-íris” numa mesma concertação. Porém não se enganem com o protagonista uma vez que ele também é sectário. Uma cena do filme ilustra esse sectarismo com a presença do líder da Democracia Cristã nas gravações da campanha. Então, mais uma vez, é a cultura política das alianças que aparece pela boca de um personagem identificado com o “comunismo” e faz prevalecer a política de unidade.
Alguns diriam que o filme reflete os tempos da pós-modernidade na política. “No” teria observado uma antecipação desses novos tempos no Chile onde o discurso político vira um produto a ser “vendido”. A escolha política estaria no mesmo nível que apresentar as vantagens do micro-ondas ou do Tablet nos dias atuais. Contudo, a cena de uma pichação na casa do publicitário o acusava de ser um marxista. Então, lembremos que Karl Marx foi instigante ao fazer a crítica da economia política no primeiro capítulo de O Capital dedicado “A Mercadoria”.

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