domingo, 23 de dezembro de 2012

ELEIÇÕES EM ISRAEL

Foto: Parlamento em Israel

Israel: o fanatismo de coalizão

Por Vagner Gomes de Souza

Em janeiro do próximo ano haverá eleições antecipadas ao Parlamento de Israel que escolherá mais um mandato de Primeiro-Ministro. A possível reeleição de Benjamin Netanyahu sugere novos caminhos da mobilização do tema da religião ao cenário da política eleitoral. Portanto, apesar de distante geograficamente, as eleições legislativas em Israel poderá ser acompanhada como uma chave interpretativa sobre as ações políticas em sociedades influenciadas pela americanização como sugerimos no caso do Brasil (o leitor poderia ainda imaginar no “laboratório da micropolítica” da Zona Oeste carioca).
As eleições legislativas de Israel são fragmentárias. Por exemplo, após o êxito eleitoral do Labour Party em 1992 que obteve 34,7% dos votos, nenhum grupo partidário ultrapassou a marca dos 30% dos votos nas eleições posteriores (1996, 1999, 2003, 2006, 2009). Observamos um gradual “esvaziamento da base eleitoral” do Labour Party que não significou num consequente crescimento da esquerda. Pelo contrário, os votos do Labour Party e do conservador LIKUD se fragmentaram em diversas organizações políticas de vocação religiosa extremista enquanto surgiu uma “terceira via” política representada pelo “centrista” KADIMA.
Nas eleições de 2009, o Labour Party e o KADIMA cederam “espaço político” em relação as eleições de 2006 a medida que o Likud e Yisrael Beiteinu ganharam força. Identificamos no “movimento neo-sionista” do Yisrael Neitenu uma “nova direita” que emergiu em Israel com base na imigração de judeus originários do pós-fim União Soviética sob a liderança de Avigdor Lieberman. Nesse momento o Likud reassume o Governo de Israel com essa aliança mais à direita mas, sejamos claros, defensora de um reconhecimento do Estado da Palestina desde que profundamente enfraquecido em comparação até ao Tratado de Oslo.
Outras organizações políticas se somaram a coalizão de “centro-direita” com vocação fundamentalista religiosa além da participação de uma dissidência do decadente Labour Party. Essa dissidência se autodenominou “centrista” com o nome de Independent Party sob a liderança de Ehud Barak. As alianças assumiram um cálculo cada vez mais pragmático com diversas organizações seculares difundindo seu “fanatismo” centrista, mas se aliando aos “fundamentalismo” judaico, o que impede em muito a reorganização de uma força política de “centro esquerda” ter viabilidade eleitoral. Nas próximas eleições o pragmatismo do LIKUD vive o “dilema do prisioneiro” das propostas fundamentalistas e, consequentemente, ganha as eleições sem se impor politicamente. Os novos sujeitos sociais provavelmente estariam se impondo nessa reconfiguração da política israelense sob influência do “fundamentalismo religioso”.
Algo sugestivo se compararmos com algumas disputas eleitorais no Estado do Rio de Janeiro (vejam a “virada eleitoral” do PR no Segundo Turno em São Gonçalo nas eleições de 2012 com apelos ao neopetencostalismo e as campanhas proporcionais na Zona Oeste carioca). Não é estranho observarmos eleitores nessas regiões que falam sobre o povo de Israel como o “povo escolhido” segundo o Velho Testamento a viver numa Terra Prometida que fazem a mesma ponte com “Nova Sepetiba” ou as novas habitações do Programa Minha Casa Minha Vida. Tema que mereceria um estudo empírico aos “mapeadores eleitorais” da Ciência Política.

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