Leonel Brizola criou um mito da vocação oposicionista do Rio de Janeiro com a frase: “O Rio de Janeiro é o tambor do Brasil”. A leitura de Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi de José Murilo de Carvalho é uma interpretação sobre a formação da cultura política carioca que contesta esse mito. O Rio de Janeiro foi esvaziado em sua rebeldia política já nos primeiros anos da República aonde a cidadania foi partida entre cidadãos ativos e inativos.
O Rio de Janeiro da ordem foi cooptando as lideranças políticas locais do mundo da desordem Na falta de uma cultura política classista que deixasse claro a transição da ordem social escravista para a ordem social capitalista, a cultura política carioca desenvolve uma política de trocas de favores entre moradores que convivem no espaço democrático nas praias, no futebol, no samba e, recentemente, nos bailes funk. Porém, essa convivência democrática não aprofundou a organicidade da sociedade carioca.
A convivência do legal e do ilegal custou um alto preço na política carioca, pois inibiu a radicalização democrática no convívio da cidade. Os anos de autoritarismo militar agravaram essa distância entre as massas eleitorais e os grupos políticos democráticos da esquerda. Estado ganhou um grande peso no imaginário do carioca, pois ele é o promotor da assistência social diante da ausência das conquistas por meio de lutas de classe. A despolitização das demandas sociais foi o primeiro passo para a organização de uma ampla rede de Centros Sociais que sustentam políticos sem convicções democráticas claras.
A privatização do Estado aprofundou um processo de “feudalização” política dos territórios da cidade do Rio de Janeiro em benefício de chefias políticas de bairros/sub-bairros. A emergência de novas camadas médias contribui na formação de uma máquina política evangélica que é uma nota a parte desse processo de “maquinização eleitoral” de viés americanizado. Tamanho processo de regulação da cidadania carioca ocorreu sob a hibernização das forças políticas democráticas da esquerda.
O pragmatismo da política “americanizada” contaminou as lideranças da esquerda carioca que emergiu nos anos 80 sob a base sindical dos serviços públicos. Hoje, PT, PSB e PCdoB fazem parte de uma esquerda de “máquina sindical” que se incorporou aos cargos públicos do Governo Estadual e Municipal o que lhe garante parcela significativa do eleitorado sem o compromisso de promover a organização das massas. O PDT transformou-se numa frente política abrigando lideranças fisiológicas/clientelistas, sobras da “máquina sindical” e as sombras do velho trabalhismo carioca. Os ventos dogmáticos do jacobinismo europeu (com forte matriz da ética na política) da antiga classe média carioca alimentam a velha esquerda valorativa mas distante da organização das massas (PSOL, PSTU e PCB).
Afinal, onde estão as forças democráticas da esquerda no Rio de Janeiro? Essa é uma fração da cultura política democrática que se encontra congelada politicamente incapaz de levantar a bandeira do reformismo democrático contra o reformismo conservador. Há um segmento político do eleitorado carioca que está órfão da falta de uma formulação política que deveria ocorrer no PSDB, no PV, no PPS e até no heterogêneo PMDB. Há um segmento de cidadãos que precisam ser organizados na política carioca.
As forças democráticas da esquerda carioca devem estar atentas ao processo de ampliação da cidadania que surgem com as UPP´s. Um novo espaço político pode ser conquistado em territórios que estão distantes do mundo sindical e do mundo partidário. A republicanização da política carioca deve ter forças políticas que pressionem de baixo para cima os agentes públicos do Governo Estadual e Municipal. Por exemplo, as comunidades “libertas” do crime organizado não tem cinemas, teatros, bibliotecas, livrarias, acesso gratuito a INTERNET etc pois a cidadania está a ser construída. A cultura pode ser a ponte política das forças democráticas da esquerda com esse segmento da cidade numa reinvenção da experiência juvenil dos CPC dos anos 60. Esse é o tempo de que o ator político se faça vivo para enfrentar a vitalidade da cooptação da máquina política.
Vagner,
ResponderExcluirRepublicamos o seu ótimo artigo no Portal Nacional do PPS. Se houver algum problema, nos avise. Pode ser vizualizado no http://portal.pps.org.br/portal/showData/193835
Um abraço,
Diógenes Botelho
diobotelho@pps.org.br
(61) 3215-9605
Bela pergunta aonde estar a esquerda democrática no rio precisamos de um grande reformismo . Bom texto Vagner.
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